Aqui nasceu a Creche Francisquinho, em 1982 (Estufa - Ubatuba) |
Bem-vinda, Joana Briet!
Até bem pouco, a nossa cidade – e o nosso povo! - estava isolado, com um mínimo de contato com outros lugares e outras mentalidades. Até mesmos os diversos núcleos de ocupação humana tinham um maior relacionamento. Os encontros mais abrangentes se davam nas antigas festas religiosas. Consequentemente, era preciso muita criatividade para superar as necessidades. Disso resultou o acervo cultural que nos resta, cuja tendência é desaparecer após o advento das interligações viárias que apresentaram o turismo como a atividade econômica por excelência. É isto: o contato com as modernidades tecnológicas vai massificando, querendo que todos sejam iguais para consumir os produtos industrializados, garantindo assim os lucros para uma minoria. É o que põe em risco um saber de muito tempo, surgido de vivências concretas em um contexto ambiental muito particular (entre a serra e o mar).
Eu tive a felicidade de ser criado na transição, quando as comunidades das praias e sertões ainda viviam no modo antigo, com mínimas interferências dos valores turísticos e migratórios no cotidiano. É por isso que defendo a documentação dos muitos aspectos da cultura caiçara localizada neste chão de Ubatuba.
Deixemos expressar as pessoas que ainda recordam do nosso lugar em outros tempos. Aprendamos das técnicas e dos conhecimentos que permitiam a resistência às tamanhas adversidades. Redescubramos um ritmo de vida simples que, mesmo nas dificuldades e austeridades, garantiam mais liberdade e felicidade.
Eu desconfio que as crises da modernidade e o desgaste do planeta levarão à descoberta desses conhecimentos, dessas alternativas mais antigas para repensar os nossos hábitos. Nesse sentido, já dizia o Leonel, paratiano de Mamanguá: “Canoa é barco de pessoa, que não gasta petróleo”.
Canoa lembra pescaria, lembra os conhecimentos antigos desde a escolha da madeira até as labutas de pescador caiçara. Faz recordar também as disputas como tanto gosta de descrever o amigo Júlio Mendes. Também consegue trazer à lembrança a etnomatemática a partir de suas medidas (da canoa, lógico!). Quem explorou isso foi o Gilberto Chieus, um ubatubano que fez carreira como matemático na Unicamp, bem longe da sua Fazenda Velha e do lagamar. Agradável surpresa foi receber, ontem, uma comunicação dele prometendo mais material para ser publicado para todos nós. Aguardamos!
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