Não
poderia ser diferente: uma cultura que deve parte da sua existência às atividades no mar, sempre muito dependente
da atividade pesqueira, não tem como deixar de buscar uma proteção extra, com
base no catolicismo trazido pelos portugueses. É o que justifica a escolha de
São Pedro, um pescador do Mar da Galileia no tempo de Jesus, de acordo com a
literatura cristã, como santo padroeiro
dos pescadores da cidade de Ubatuba.
Afirmou, numa conversa, o saudoso Ney Martins: "Quem primeiro organizou a procissão marítima
nos moldes dos dias atuais, foi o padre Lino, um caiçara da primeira metade do
século XX". Eu tive o privilégio de ver a fotografia de uma cerimônia conduzida
por esse sacerdote. Aconteceu bem no lugar onde hoje é a desembocadura do rio, entre o porto de Yperoig e a prainha do Padre,
sobre uma plataforma flutuante. O povo, espalhado desde o morro até o jundu, assistiu com muita fé a celebração ao santo dos pescadores. Como deve se repetir hoje, aconteceram as bençãos dos anzóis, das canoas e dos apetrechos de pesca.
A
plataforma, local da missa, era um tablado bem estruturado sobre quatro ou
cinco canoas fundeadas lado a lado num dia de mar calmo. Num depoimento que eu
recolhi do finado Janguinho, na beira do rio Acarau, ele afirmou que “Deus e
São Pedro ficaram tão contentes que, o mar, parecido uma lagoa naquela tarde,
nem balançava o vinho no cálice. Digo isso porque eu estava no local. Fui eu e
o Zé Vieira, na canoa Brejeira, que
transladamos o padre Lino”.
Lá
se vão muitas décadas! Hoje, por ingenuidade, a religião, um aspecto do conhecimento
pertencente “à infância humana” (Nietzshe), continua se multiplicando. Muitos
dessas denominações religiosas são intolerantes em relação às manifestações
culturais populares. O resultado é este: muitos dos pescadores e suas famílias
pouco caso fazem da procissão marítima. Coitados! Perdem um filão no turismo
cultural, deixam de faturar, ficam ainda mais divididos e nem percebem o quanto
isto interessa àqueles que comandam o sistema que aí está!
Mas...
Vamos lá! É lindo ver os barcos abarrotados e enfeitados singrando as águas da
Baía de Ubatuba em procissão! Depois, deixemos a tara (maior tainha ofertada) para o santo e vamos saborear uma tainha assada!
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