Puxada de rede - Arquivo Trindadeiros |
Entendendo
o ritmo ditado pelo tempo aos antigos caiçaras, compreendemos porque ocorreu a
preservação ambiental neste pedaço de chão chamado de Ubatuba (terra de muitas
ubás, uma espécie de cana silvestre).
Longe da zona industrializada, preocupava-se apenas com a subsistência, onde
o pouco que se guardava era alimento para não se preocupar demais quando o
tempo chuvoso ou de festas que se arrastavam além do comum. Por que trabalhar
além da conta se o que precisamos para o dia a dia é tão pouco? O quadro muda drasticamente com o advento do
turismo, quando o ter ganha uma dimensão muito além do ser.
O
turista percebe o paraíso, quer adquirir as terras, oferece dinheiro fácil. Até
então ninguém pensava em ganhar dinheiro com as posses herdadas de outras
gerações, que serviam apenas para abrigar roçados, algumas criações de terreiro
e as humildes (ecológicas) habitações. Creio que esta frase é significativa
desse período: “O dinheiro era custoso, mas o de comê era fartura”.
O
turismo que disparou a especulação imobiliária também provocou o êxodo de
outras culturas, sobretudo para a construção civil: vieram cariocas para a
extração de granito verde, chegaram catarinenses para o mercado pesqueiro, se
estabeleceram nordestinos e mineiros como “pião de obra”. Alguns mais, outros
menos, mas todos competindo na lógica capitalista, se esquecendo de suas
culturas originais. Os outros que não se dispunham àquele ritmo (extensos
períodos de trabalho, sem feriados e festas, sovinice, desgaste da saúde etc.)
eram vagabundos. Ou seja, o povo do lugar que desenvolveu um ritmo de acordo
com o ambiente, que forjou uma cultura desvinculada da escravidão industrial,
era o errado. Esta mentalidade, até
mesmo incluída em definição de dicionário, continua nos dias de hoje. Portanto,
fica difícil para as gerações pós 1960, refletir/entender a real dimensão de
ser caiçara.
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