Enquanto
estou escrevendo, repassando a minha prosa com o finado Aristeu, filho da Ilha
do Tamanduá, vou pensando em determinados moradores do território que está
sendo explicado. Agora, por exemplo, penso no trabalho de graduação individual
apresentado pelo Domingos, no curso de Geografia da Universidade de São Paulo,
no começo da década de 1990, ou seja, que já completou 20 anos. Nele foi abordado,
a partir de uma entrevista com a dona Maria Galdino, filha de escravo da região
da Caçandoca, como era a vida ali, como estava a situação após a ruína
econômica de Ubatuba a partir da segunda metade do século XIX. Esse trabalho
serviu de base para o tombamento do quilombo da Caçandoca há poucos anos.
Na
verdade, a região da antiga Fazenda Caçandoca, que vai da Pedra do Cruzeiro (ou
do Xis) até a Pedra do Frade, da família Antunes de Sá, é um espaço bem claro
de entrelaçamento cultural neste pedaço do litoral brasileiro: os pobres que já
eram mestiçados se juntaram com os negros e aumentaram a mestiçagem na área que
foi se arruinando. Um detalhe: o dono da fazenda escolheu ficar e se arruinar
com a propriedade.
As
razões dessa opção talvez tenha sido a beleza, a tranquilidade e a fartura do lugar, lembrando um paraíso
com muita permissividade, atraindo até moradores de outros lugares próximos e
das ilhas. Logo tinha muitos negros, loiros e morenos com o nome de Antunes de Sá. É assim -se misturando- que o pobre resiste. Quero dizer
que o título atual de quilombo foi uma estratégia para ter um espaço mais seguro, na
lei das comunidades tradicionais, porque a resistência foi de todos que se tornaram
pescadores e roceiros com uma devoção popular repleta de festas, onde, ambas as
dimensões (sagrado e profano) era o combustível essencial para viver com
alegria e simplicidade. Isso tudo está no valioso documento do Domingos que eu
penso publicar em partes.
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