terça-feira, 28 de junho de 2011

É dia de festa no mar!

                
         Bem ali, no começo da estrada, depois da capela N.S. das Dores na praia entre o Acarau e o Itaguá, no ano de 1980,  encostei-me   numa roda de causos. Bons homens! Autênticos caiçaras!  Lá estavam: Sebastião (o “Velho Rita”), Davi Alexandrino, Lauro Bourget, Janguinho, Élvio, Acari, Juraci e mais alguns. Olhavam o mar enquanto escutavam, contavam e davam boas gargalhadas. 
         Era dia de procissão em louvor a São Pedro Pescador. No lagamar, junto com alguns jovens e crianças, estava o professor Joaquim Lauro dando os últimos retoques em algumas embarcações para a festa no mar. Colavam bandeiras, faziam arcos de bambus; faziam varais de panos de redes onde dependuravam estrelas do mar, bocarras de caçoas e arranjos de conchas. Que empolgação!
         Nessa ocasião, depois de escutar o Janguinho explicando a cerimônia religiosa em alto mar, principalmente a benção dos anzóis e das redes, quis saber mais coisas. Por isso eu o acompanhei até a sua casa, na entrada para a praia do Tenório, para escutar mais um pouco, me preparar melhor para aproveitar o máximo do ato da tarde, da festa do padroeiro dos pescadores. A partir de uma fotografia antiga (e com a ajuda da dona Santana, a parteira), o bom homem assim explicou:
         - Este é o padre Lino dos Passos, um caiçara. Na década de 1930, querendo incrementar o feriado, em cima de quatro grandes canoas, entre a prainha do Padre e o Cruzeiro, teve a ideia de montar uma estrutura interessante: num tablado de 5m X 5m, com um altar e a imagem do padroeiro, celebrou uma missa. O morro, a boca da barra e a praia ficaram lotados de fiéis. Também à sua volta, conforme a fotografia em preto e branco, o mar coalhava de canoas. Era clara demonstração da religiosidade dos caiçaras.
         Hoje, apesar da devoção, a procissão dos barcos é apelo  cultural. Faz parte do calendário turístico do município. É pena que os limites da ignorância, principalmente de muitos que dependem da pesca, não contribuam para que ela cresça e atraia mais turistas para a nossa cidade. Em datas assim sinto falta do exemplo do professor Joaquim Lauro, natural da cidade de Lorena, mas em tão grande estágio de interação cultural que até suplantava muitos caiçaras. Quem não reconhece que as regatas de canoas foi iniciativa dele?
         Neste Dia de São Pedro Pescador, em cada pessoa engajada para a realização da procissão marítima eu vislumbro a imagem do empolgado professor. E concluo: é festa do povo que os afastamentos parciais promovidos pelas denominações religiosas estão matando. Será que não está passando da hora de deixar aflorar a criatividade, o prazer de festejar como uma única cultura?

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