sexta-feira, 17 de junho de 2011

Franceses sonhando em terras de Ubatuba (Parte VIII)


         Depois disso tudo ficou muito difícil. Imaginem uma viúva, com dois filhos pequenos, se deslocar de Taubaté para o Ubatumirim num tempo de péssimos transportes, quando nem se sonhava em estrada de rodagem para o lado norte do município. É bem lembrar que a BR-101 só vai se tornar realidade quinze anos depois da tragédia. No entanto, ainda eu estive alguns períodos de férias em nossas terras: uns dois ou três anos consecutivos. Depois tive que largar tudo, me dedicar ao trabalho e às crianças.
        Depois da morte de Jean Pierre tentei conservar as posses. Foi muito difícil, pois a eminência da abertura da rodovia provocou uma verdadeira loucura. Compradores de todas as partes surgiram com malas repletas de notas de pouco valor, mas que pareciam uma fortuna para os ingênuos caiçaras; assim adquiriram as posses. Não me sai da lembrança um caso, de 1965, que muito me chocou: foi a troca de uma belíssima posse entre a praia e o rio, no Ubatumirim, por uma casinha popular inacabada no bairro da Estufa II, num terreno sem qualquer documentação. Depois vieram os grandes grileiros, chegando a ocupar áreas com homens armados. Para uma mulher sozinha era impossível enfrentar esses jagunços. Assim, pensando nos meus filhos e já lecionando na Unitau, além de estar cansada de passar todas as minhas férias e alguns finais de semana nessa luta, deixei a casa da praia aos cuidados do Benedito Rolim. O Sertão da Sesmaria do Ubatumirim ficou sob os cuidados de outro empregado chamado Melentino.
        Quando o Dito Rolim se ausentou por questões particulares, a posse da praia foi invadida. Porém, graças à dedicação e competência do doutor Manoel Casal del Rey Aspera, após seis anos de processo, conseguimos reaver a área e, num acordo com o próprio advogado, a trocamos por uma casa no bairro do Tenório. Após reformas, nós a alugamos na temporada.

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