segunda-feira, 13 de junho de 2011

Franceses sonhando em terras de Ubatuba (Parte V)

            
         Aproveitávamos as férias escolares todas na roça. Quando a Patrícia tinha quatro anos, nasceu Jean-Pierre Patural Júnior. É, pois é! Ele nasceu no Ubatumirim! Ele veio antes do previsto. Essas coisas acontecem; as mulheres entendem bem disso: as crianças não nascem no dia em que achamos que vão nascer.
        Estávamos no Ubatumirim, na nossa aconchegante casinha, quando comecei a sentir as contrações. Só que eu não fiquei nem um pouquinho preocupada, pois confiava muito no meu marido. Ele também era zootecnólogo; tinha sido o parteiro no momento do nascimento da Patrícia, em nossa casa de Taubaté. E, convenhamos, cá entre nós: não existe muita diferença entre o parto de uma mulher e o parto de uma vaca. Além do mais eu pensava: muitas mulheres já deram à luz neste lugar, com condições mínimas de higiene; seus filhos estão todos vivos. Isso sem contar que tínhamos uma farmácia  bem montada para atender, em casos de emergência, a população local. Ah!!! Quantas vezes ela foi usada!!!
        Assim nasceu a nossa segunda criança. A única inconveniência foi a falta de roupinhas e de fraldas para protegê-lo. Um lençol, que ainda era parte do nosso enxoval, foi cortado em pedaços regulares e resultou em oito fraldas. Ah! Nós mantínhamos  na praia um ponto comercial, uma “vendinha”, para atendimento, sobretudo, dos empregados. Lá tinha, inclusive, o morim, que era um tecido muito barato. Foi de lá que o meu marido trouxe os panos que eu os transformei, costurando à mão, em várias pecinhas de roupas. Um balaio serviu de berço para o bebê. [Neste momento a entrevistada vai buscar uma peça de roupa infantil minúscula já amarelada, dizendo que era azul. É uma relíquia feita com todo o carinho que só uma mãe muito sensível é capaz de conservá-la por quarenta e cinco anos]. Desse tempo data a nossa relação com a Carmem.


         Carmem era uma adolescente com quinze anos quando o Jean-Pierre nasceu. Desde cedo ela adotou o menino; foi a babá desde o primeiro instante. Nós a levamos para Taubaté e, ela só deixou a nossa casa para se casar. Foi como uma filha. Era gente do Apolinário. Atualmente mora no Jardim Luamar (Estufa II) e está muito bem. É certo que passou por certas dificuldades, mas soube usar a cabeça. Estamos felizes por ela.
        Só tem uma coisa que me marcou bastante: a volta com o bebê para Taubaté. Ainda estava toda dolorida e tive que vir de canoa para a cidade, depois embarcar no ônibus para Taubaté e enfrentar tantas horas de sacolejo numa estrada medonha.

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