Ainda hoje não é difícil encontrar alguém que goste de contar causos de lobisomem. Há quem diga que este é um dos personagens mais comentados do Brasil. Em Ubatuba eu tenho certeza que é. Já escutei sobre lobisomem de todo quanto é tipo, vivendo as mais inusitadas situações. Outro detalhe: em muitas das narrativas transparecem ocasiões propiciadoras de oportunidades cobiçadas, maliciosas etc. O que vem a seguir eu escutei do finado Tonico Amaro, do bairro do Ipiranguinha. Sentados com ele, na beira da conhecida cascata do bairro, eu e Emília Assunção, em 1980, éramos só atenção. Conta Tonico!
“Eu tenho um primo que hoje mora no centro da cidade, mas antes a casa dele era aqui, bem rente da minha casa. Em certa ocasião, quando ainda namorava a moça que hoje é a sua mulher, aconteceu de encontrar o tal de lobisome. Foi assim: era noite de lua cheia. Os dois conversavam no terreiro, embaixo de um pé de grumixama. De longe o pai da moça controlava a movimentação; ficava de olho. Era assim, né? Naquele tempo as casas ainda eram iluminadas por lamparinas, sendo o combustível mais usado a semente de nogueira, porque querosene precisava comprar. Aquela massa dá um fogo e tanto! Não pensem vocês que as pessoas dormiam tarde, como agora. A janta era no serão; depois se conversava um pouco para não dormir de barriga cheia. Logo tudo era silêncio. Só os passarinhos da noite eram ouvidos. Ah! Que beleza escutar os curiangos! E a coruja que chora!? Então, para encurtar o causo, o rapaz logo ia embora. Isso lhe dava credibilidade, demonstrava que era respeitador. Bem na hora da despedida, todos ouviram um uivo bem alto. Foi de arrepiar. Mesmo assim o rapaz –meu primo!- foi embora. Todos entraram depressa; pouca luz se via por alguma fresta. Assim era a casa de pobre. De repente, num silêncio de medo, os da casa ouviram passos de alguém que vinha correndo, gritando o nome da moça. Era o namorado desesperado na porta. Entrou rápido; a tranca foi passada na hora. Logo foi dizendo que um cachorrão estava atrás dele; meio cachorro com jeito de homem. Nisso que falava, a coisa bateu forte na porta quase arrancando a tramela. Arranhou, arranhou... uivou várias vezes... foi embora. Depois de um tempo, o velho Itagino, o futuro sogro, desenrolou uma esteira e fez o meu primo João dormir com eles. No outro dia, bem cedo, na porta de pinho estava a prova: era só lanhos –marcas que o lobisome deixou”.
Rimos bastante com mais coisas que o Tonico Amaro nos contou. Até brinquei dizendo que o lobisomem era alcoviteiro. Ele concordou: “É isso mesmo! Agora você disse tudo! O lobisome era cobitêro!”
Sugestão de leitura: Mundos de Eufrásia, de Claudia Lage.
Boa leitura!
José Ronaldo dos Santos
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