sexta-feira, 24 de junho de 2011

Dia de São João


                
                                                        “Capelinha de melão/ É de São João/ É de cravo/ É de rosa/ É de manjericão...”
         Juntamente com os rituais da comunidade da praia da Fortaleza, essa cantiga escolar cumpria o papel importante na vida da gente: o exemplo dos santos, em especial de São João, a continuar se repetindo em nosso meio, além de reforçar a crença de que alguém, depois de passar “por este vale de lágrimas”, agora era, no céu, mais um  intercessor  dos “pobres pecadores”.  De que forma ajudá-lo em tal tarefa? Repartindo o pouco de cada dia, fazendo fogueiras, bebendo consertada e quentão, rezando, dando do pouco dinheiro que possuía uma contribuição à igreja através dos leilões, etc.
         Quem se alegrava era todo mundo, inclusive os caiçaras de outras comunidades. Doces, salgados e bebidas eram preparados em pitirão (mutirão) ou individualmente e distribuídos gratuitamente para todos. Os festeiros se esmeravam nos preparativos: todos eram pobres, mas queriam fazer o melhor que podiam. Os fogueteiros sabiam os momentos de manifestação. E tome riscos brilhantes nas noites escuras! Que  alegria!
         A fogueira era uma parte especial! Dias antes os homens já estavam no mato à procura de boas toras que dessem sustentação ao fogo necessário para iluminar todo o terreiro em frente, entre a capela e o mar. Depois da festa acabada, algumas dessas toras ainda ardiam por alguns dias entre cinzas e areia.
         A Bandeira do Santo, antes da reza especial, era levantada no mastro colorido, onde ficava por um ano. Ah, que ritual! As bandeirinhas de papel, fixadas com cola feita de farinha de mandioca, se esparramavam em formas de varais por todo o espaço.
         Canas cheiravam entre as brasas. Já sentiu o cheiro da cana assada? Também aí estavam as batatas e as mandiocas sendo assadas. De vez em quando alguém trazia um galho de abricoeiro verde só para produzir um gostoso estalido. E as fagulhas subiam até serem apagadas pela friagem da noite. Nossos olhos acompanhavam a desenvoltura das luzes em louvor ao santo.
                Por fim, uma imagem inesquecível: sob um tapete de brasas na praia, acima da linha do lagamar, poucas pessoas passavam calmamente descalças. Era o batismo da fogueira na tradição caiçara. Só não me perguntem como conseguiam isso.
         Para concluir: era o dia de podar as roseiras, rogando ao santo para que nunca faltasse nos quintais de nossas humildes casas de pau a pique.
         Desse tempo cheguei à conclusão sobre a importância da religião: reforçar os laços sociais, criar solidariedade, contribuir para as alegrias do ser humano. Só isso (?).
         Viva São João!
          Viva o povo caiçara!
         Viva!

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