Isso de fragilizar ainda mais os
povos indígenas, fartamente sabido por todos no Brasil atual, é cruel. O título
deste seria mais justo se fosse Atualização do Genocídio Tupinambá, pois prevalece a lei de levar vantagem, de remover
qualquer obstáculo ao lucro de alguns, mesmo que isso inclua o desaparecimento
de povos inteiros, de culturas que vem dos primórdios, onde nem mesmo foram
devidamente estudadas ou que seguem ainda sem contato com os descendentes dos
invasores de cinco séculos atrás. O documento de hoje, apesar de ser antigo,
vai nos mostrar que é atualíssimo, confere com a prática que aí está. Ou seja, conforme seguem exterminando as Nações Indígenas, os invasores legalizam as terras
como suas, afirmando: “Agora eu posso
fazer o que quiser, não tem ninguém para atrapalhar”. E assim, "está dentro da lei", sobretudo quando o domínio é fascista transvestido de moralismo cristão.
Em Ubatuba, os indivíduos do povo Tupinambá
eram os moradores originais, tudo era parte de seu território onde caçavam,
coletavam e tinham suas habitações. O seu desaparecimento, após a Guerra de
Yperoig, era inevitável mediante a cobiça crescente pelas terras e riquezas
deste território. Benedito Prezia, um pesquisador e palestrante de outro tempo,
constatou que no século XVIII, no Vale do Paraíba, se fez o último registro de
remanescentes dessa Nação Indígena, do grupo dos Tamoios, uma das nossas raízes
caiçaras. Após os resultados com os
tupinambás, o massacre pelo mar e terras tamoias, logo apareceu a burguesia portuguesa faminta pelos espólios. O Seo Filhinho, em Ubatuba Documentário nos informou:
Sabe-se que nos primeiros anos
do século XVII aqui já haviam inúmeros portugueses radicados, entre eles
Inocêncio de Unhate, Miguel Gonçalves, o capitão Gonçalo Correa de Sá e seu
irmão Martim de Sá, os filhos deste, Salvador Correa de Sá e Artur de Sá, além
de Belchior Couqueiro e muito outros. [...] De Inocêncio de Unhate e Miguel
Gonçalves, encontra-se registrado no Terceiro Livro de Registro de Sesmarias,
existente no Arquivo da Tesouraria da antiga Delegacia Fiscal do Tesouro
Nacional em São Paulo, a petição e despacho do teor seguinte:
Inocêncio de Unhate e Miguel
Gonçalves, que eles são moradores da Vila de Santos e haviam ajudado a defender
a terra dos rebeldes franceses, holandeses e ingleses que a ela vieram e em
todas estas guerras e rebates sem acudirem com suas pessoas, fazendas e armas e
escravos, e nunca foram premiados por Sua Majestade, nem pelo Sr. Lopo de
Sousa, os seus serviços e por não terem terras e por todas as terras do Brasil
desde o Rio Juquiriquerê até a Ilha Grande estão devolutas, pediam-se-lhes
desse três léguas, tanto de comprido como de largo na terra firme, na costa do
mar, indo para o Rio de Janeiro e começarão a partir de um rio que se chama
Marajahimirindiba [Maranduba] e irá correndo para a costa e correndo direto
pelo rumo daquele até chegar a outro rio que se chama Hubatyba [Rio Grande ou
da Barra, em Ubatuba] que está da dita costa para a banda do Rio de Janeiro,
defronte da Ilha dos Porcos [Ilha Anchieta] sendo de três léguas de terra em
quadra, com todas as suas entradas e saídas. – Despacho – Dou aos suplicantes
as terras que pedem. Santos, 9 de Dezembro de 1610 (a) Gaspar Couqueiro –
Capitão Mor da Vila de Santos.
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