“A vida da gente é uma passagem, uma viagem com ponto certo para desembarcar. E não tem como comprar outro bilhete para outro ponto”. Esta fala do vô Estevan me fez recordar de uma pessoa recentemente falecida: Jorge Matsuoka, que trabalhava, na minha infância como cobrador de ônibus. Ele tinha uma espécie de alicate que picotava o bilhete (a passagem) de acordo com o lugar de desembarque. Explico melhor: naquele pedacinho de papel existiam demarcações (limites) de distâncias: conforme o lugar pretendido (o destino) havia um preço. Então, numa viagem de Ubatuba a Caraguatatuba, havia espaços para serem perfurados em quatro pontos ou cinco diferentes. Quer dizer que a viagem tinha preços diferenciados e não somente dois preços como hoje (Ubatuba – Maranduba – Caraguatatuba).
É impressionante a força das imagens. Consigo ver o Jorge, depois de tanto tempo, se equilibrando pelos corredores durante o trajeto, marcando passagens, dando troco e sendo simpático com todo mundo. E ainda: trazia um quepe e uma farda marrom. De igual modo se trajava o motorista. Lembravam os patrulheiros rodoviários, mas sem revólveres na cintura. O impressionante é que tem uns jovens da atualidade que, ao ouvirem isso a eles, dizem; “Que coisa mais atrasada!”.
É coisa atrasada viajar pagando de uma forma mais justa, ter um cobrador em cada ônibus nos sorrindo, dando informações? E o que me dizem de um cobrador e um motorista com autoridade e sendo respeitado por todos os passageiros? Só em casos extremos o condutor do coletivo dava sinal para alguma “baratinha” (carro da polícia) ou estacionava direto em frente a delegacia, onde o engraçadinho ficava recolhido.
Coisa maravilhosa para as crianças: viajar de ônibus, ocupar o lugar perto da janela. Ficar quase o tempo todo em pé para enxergar mais longe pela janelinha e ver as belezas que não nos cansam jamais. Tempo bom!
Em tempo: nasceu, ontem, mais um sobrinho: o filho do Guinho e da Maria Inêz. Viva!
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