O meu avó Estevan (1908 - 1990), natural da praia da Caçandoca, sempre primou pela honestidade, nunca deixou de trabalhar e de ser justo. Pescava e labutava na roça, num tempo em que não precisava muito para ser feliz. Também, como muitos da sua juventude, foi trabalhar nos bananais da Baixada Santista.
O deslocamento para Santos, há quase 300 quilômetros de distância, era feito a pé ou de canoa. (A foto mostra uma embarcação munida de traquete, que podia ser um alívio ao corpo em condições favoráveis de vento). Ia quem sonhava em ganhar um pouco de dinheiro, adquirir aquilo que o regime de subsistência baseado na troca não permitia ter. Podemos dizer que era uma situação muito semelhante ao que vivemos desde 1970, quando Ubatuba tornou-se o máximo para o turismo, atraindo tantos migrantes para a construção civil, sobretudo dos cantões mais pobres de Minas Gerais e dos estados nordestinos.
Bem depois dessa experiência nos bananais , cujo produto servia à exportação (Europa e Argentina), vovô Estevan se viu novamente em busca de emprego que lhe rendesse mais que a lavoura e a pesca artesanal. A Petrobras começava as suas instalações na cidade de São Sebastião: era a nova chama, o “El Dourado” da época. Abrindo valas, aterrando mangue, conduzindo cargas de tubos, roçando e carpindo: eis o trabalho do vovô por vários anos. Toda vez que passo pela aquela imponente estrutura no coração da cidade vizinha, penso no trabalho dele.
Ultimamente tenho encontrado o Dito Campista, um ex-colega do vovô do tempo da companhia de petróleo. Ele me disse isto: “Eu era moleque ainda, mas tembém fui buscá emprego na companhia. Foi onde conheci o vosso avô que me ensinô muita coisa. O seo Estevo sempre que olhava pro mar dizia: ‘Ai minha rede! Ai minha canoa!’. O meu amigão sentia muita saudade”.
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