Por um tempo fomos vizinhos, no Perequê-mirim, isso no início da década de 1970, do russo Viktor Kornílov, um tranquilo velhinho que deixou a sua terra logo após a Revolução Russa (1917).
O seo Vito adorava pescar. A sua casa mais parecia uma ilustração de conto de fadas, com uma cerca viva maravilhosa. Ah! A sua edícula servia como oficina, de onde saíam engenhosidades fantásticas! Ele tinha uma embarcação (bote) tratada com tanto carinho que até dava para comparar a um membro da família. Desconfio que existe até hoje, preservada em algum lugar a servir de base para histórias aos seus descendentes.
Foi convivendo com os caiçaras que o seo Vito aprendeu um monte de coisas, de nomes, de técnicas etc. Porém, o espírito brincalhão de vários dos meus antigos era muito forte. Tudo tinha que render algumas risadas. Assim, por exemplo, alguns nomes de peixes foram ensinados erradamente ao bondoso russo. Mira, um tranquilo peixe da costeira, passou a ser chamado de mierda; o carapicu tornou-se cara de... ; a sarambiguara provocava risos quando ele dizia orgulhosamente sarna na cara; o coitado do roncador virou coçador.
Coitado do seo Vito! Nunca entendeu porque em muitas ocasiões, quando descrevia satisfatoriamente as suas pescarias, exagerando sempre um pouquinho mais como bom pescador, todos riam gostosamente das suas palavras. Imagine ele narrando: “Eu pescar, depois do Saco Manso, um peixe mierda que cansar demais. Ficar entocado no buraco preto da Pedra do Rendido”. Só não digo o que rendia de graça o outro nome do coitado: o Kornílov.
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