A minha prima Aninha vivia querendo ensinar as coisas que um dia aprendera dos seus pais, avós etc. Sempre tinha ocasião para isso: era na roda raspando mandioca para fazer farinha, sentados pelas sombras num dia após o almoço - quando muitos até roncavam gostosamente -, ou até mesmo no serão, no momento que mais gente se empolgava para contar e ouvir coisas da vida da gente e da gente de outros tempos. Hoje fico pensando nos fragmentos das suas prosas, na empolgação da prima a ensinar. O seu lugar preferido era ali, no terreiro da casa, bem na beira da costeira do Saco dos Morcegos. Eis algumas das suas pérolas da nossa tradição oral:
“É assim mesmo, gente! Se uma família tiver sete filhos homens, o mais velho precisa ser o padrinho do caçula, senão este vira lobisomem!”.
“Sabe o que acontece com quem dança na quarta-feira de cinza? Cria rabo!”.
“Quando chega alguém na casa que o dono não gosta, basta colocar uma vassoura atrás da porta que a visita sai na hora!”.
“Os homens não casam com mulher de dedo do pé bem maior que o outro porque senão ela manda na casa!”.
“Eu e os meus irmãos, se choramos à noite, escutamos do papai e da mamãe que a coruja vem furar os nossos olhos. A gente acredita; tem de engolir o choro. E o pior: tem uma coruja no nosso quintal!”. Nessa hora, quando o sol já deixava escurecida a Ilha da Vitória que de longe nos olhava, a criançada imaginava a citada coruja numa daquelas árvores a espreitar todo mundo e doida para furar olhos. Rapidinho cada um queria ir para a sua casa.
E a Aninha sempre encerrava a prosa com um argumento falacioso, de apelo à autoridade:
“Tudo isso diziam os antigos, repetem os mais velhos de hoje e as pessoas sabidas como eu!”
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