O estudioso Peter Burke, presente na FLIP/2010 (Festa Literária Internacional de Paraty), defendeu: “ainda me parece que há lugar para um livro que se concentra nos artefatos e apresentações em sentido estrito (...). Esse tema mais limitado permite um estudo comparativo mais rigoroso do que o tema mais amplo”.
As passagens que ouso transcrever são apresentações em sentido restrito, dizem respeito às particularidades do universo caiçara, mas são relatos que podem remeter a dimensões mais amplas. Hoje, por exemplo, estou me lembrando de uma narrativa frequente no Tempo da Quaresma, relembrada pela Maria Clarice. É bastante significativa porque mostra a força da religiosidade católica nos diversos aspectos da nossa cultura.
Trata-se de um homem que, numa Sexta-feira Santa, foi a um baile. Lá se engraçou com uma mulher bonita e com ela dançou a festa inteira. Por volta das 23:30 horas, a mulher quis ir embora; ele ofereceu-se para acompanhá-la até sua casa. Ao chegar na porta, ele se deu conta que estavam dentro do cemitério. Naquele momento, a mulher disse que aquilo que havia acontecido era para ele deixar de ser debochado, pois a casa em que eles dançaram era uma sepultura.
Daquele dia em diante, esse homem nunca mais quis saber de dançar nem em dia comum e muito menos em dia sagrado.
Outras passagens, indo nessa direção, falavam que nesse tempo (Quaresma) não se deve varrer a casa, comer carne, matar ou pescar. Afinal, a Quaresma era tempo de renascer.
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