Minha mãe, Helena, morava na rua principal do Potim, que era um bairro de Guaratinguetá e hoje é uma pequena cidade. Junto com sua família moravam o Corrêa e a São Glória, que lá trabalhavam. Foram eles que contaram esse causo, ocorrido na década de 1940.
Toda segunda-feira, por volta da meia-noite, quando todos já haviam se recolhido em suas casas e a maioria já dormia, especialmente as crianças, começava a se ouvir um rumor de vozes vindo da rua, era gente rezando e cantando músicas de procissão andando em passo lento, indo em direção à praça da igreja. Iam até a frente da igreja, onde havia um cruzeiro antigo, ali tudo terminava. Podia-se ouvir de dentro de casa, mas ninguém tinha coragem de sair ou de abrir as janelas. Todos os moradores daquela rua ouviam e comentavam com medo. As pessoas de fora não acreditavam, parecia invenção. O Corrêa afirmou que um dia espiou por uma fresta da janela e viu passar a procissão, disse que eram muitas pessoas, todas vestidas de branco e com véus brancos.
Uma noite, a procissão estava chegando na praça, passando em frente da casa da Geralda Brás, quando uma tia dela, não aguentando mais a curiosidade, se encheu de coragem e abriu a janela que dava direto para a rua. Queria tanto ver os rostos daquelas pessoas! Viu que todos na procissão carregavam velas acesas. Um deles, percebendo a observadora, saiu do grupo, foi até a sua janela silenciosamente e lhe entregou a vela que estava segurando.
No dia seguinte a moça foi encontrada desmaiada junto à janela aberta e em sua mão não havia mais uma vela, mas sim um osso. Nunca mais se ouviu dizer que alguém tivesse visto de perto a procissão das almas.
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