A professora e seu filho - Arquivo JRS |
No espírito da busca da terra sem males, ponto de partida da mística dos povos guarani, dos guarani mbya, eu, minha filha e outras pessoas partimos para a aldeia Rio Bonito, em Itamambuca, para aprendermos sobre a lingua desse grupo vindo de Paraty há alguns anos apenas, mas donos desse território imenso, dessas terras da América do Sul, desde quando não existia ainda essas divisas demarcadas pelos europeus exploradores.
Ivanildes e seus parentes nos acolheram assim que atravessamos o maravilhoso rio Itamambuca. Um café com iguarias da terra foi nosso primeiro momento antes da aula. Todos estavam bem, à vontade, prontos para aprender e dar mais passos para uma maior interação com essa parcela dos povos originários que se compõem no município de Ubatuba.
O material de estudo é simples, com base em livros didáticos que servem ao grupo étnico em suas escolas. Caso lhe interesse, o curso também é parte de uma meta deles: construir uma nova cozinha comunitária. A contribuição de cada participante ajudará nisso. A lousa, devidamente amarrada num tronco de palmiteiro [jiçara], foi um dos recursos à mão de Ivanildes que nos envolveu em seus ensinamentos, na aula. Achei importante a prosa inicial: “Javyju [bom dia]. A nossa língua é o nosso espírito. Se ela morrer, a cultura da gente desaparece também”. Quem nunca parou para pensar nisso? (Eu grifei jiçara acima porque era assim que os caiçaras falavam. De seus troncos eram preparadas as ripas usadas para sustentar telhas, armar pau a pique e tantas coisas mais). Do antigo povo Tupinambá, um dos esteio da cultura caiçara, eu vivi alguns aspectos (de cultivo de rotação de espaços de roçados, das coivaras, dos conhecimentos das plantas etc.). Meus parentes caçavam com as mesmas técnicas herdadas há séculos, se viravam com aquilo ofertado pela natureza. Ah! Eu puxei pela palavra pitirão. Sabe o que é? É se ajudar, trabalhar juntos! As casas caiçaras, os roçados e as festas eram realizações por pitirões. Por isso quis saber se havia um termo guarani mbya para esse traço cultural. “Sim, é nhanhopỹtỹvõ”. Outra reflexão se deu em torno da palavra tamoi. Novamente a Ivanildes esclareceu: “Tamoĩ se refere a avô. Não o meu avô xeramoĩ, mas avô como homem sábio, de máximo respeito ao nosso povo. Quando se refere à avó de igual reverência é xaryi. Xejaryi é minha avó”. E lá veio uma mostra da histórias ancestrais do povo guarani! Coisa maravilhosa!
Sabe o que é yvy rupa? É planeta; a terra, chão de todos nós. É o ponto de partida de cada encontro da comunidade na Casa de Reza: “A primeira reza do pajé é pra yvy rupa”. Por fim, tal como a Ivanildes eu digo: peju xerekoapy (estou agradecendo a vocês por terem vindo), visitado coisasdecaicara.blogspot.com. O meu desejo é que sejamos um só povo a resistir contra o mal, com a graça de Nhanderu (o pai de todos nós).