sexta-feira, 19 de junho de 2020

CARAVANAS DE 1970 A 1974

Frei Pio e a turminha (Arquivo Iolanda)


Iolanda(agachada) em ação (Arquivo Iolanda)


Sempre é bom recordar de outros tempos e de outras pessoas que fizeram muito por Ubatuba. As Irmãs Franciscanas Missionárias de Assis, no começo da década de 1980, fundaram com o frei Pio a Creche Francisquinho. Eu trabalhei na reforma/adaptação do espaço no bairro da Estufa. Até uns dias desses estava lá ainda partes dos brinquedos que eu fiz.

Nos anos de 1970 a 1974, durante as férias escolares de julho e janeiro, nós Irmãs Franciscanas Missionárias de Assis (que dávamos aulas) e mais alguns leigos que se dispunham, tirávamos de 18 a 20 dias, para ir a Ubatuba fazer uma espécie de missão com os caiçaras e pessoas do sertão de Ubatumirim. 

Na época ainda não havia a estrada Rio-Santos. Aquele povo das praias e do sertão plantava mandioca, colhia, ralava e fazia farinha com grande sacrifício, inclusive, ‘lutando’ contra a “imundície” como chamavam a formiga saúva, que muitas vezes devastava as plantações. Quando conseguiam fazer a farinha, ensacavam-na para ir vendê-la na cidade. Este era outro grande sacrifício, porque tinham de ir a pé com o saco de farinha nas costas, atravessando praias e morros. 

O padre Frei Pio Populin, franciscano, grande missionário de Ubatuba por mais de 30 anos, idealizou um barco que pudesse transportar o povo das praias e do sertão, para ir vender seus produtos na cidade, seja a farinha, como também artesanatos que muitos faziam de madeira ou palha, ou para irem a médicos, etc. Esse barco, construído pelo (na época frei Odorico) foi uma bênção para o povo. Os “timoneiros” eram os conhecidos Salvador e Nelson. E era do barco que também nós nos servíamos para chegar à praia Ubatumirim. Que medinho quando estava em alto mar! A travessia durava aproximadamente duas horas. Quando víamos ondas muito altas e fortes, olhávamos o rosto do Salvador para ver se estava preocupado ou tranquilo. Se estava tranquilo, também nós nos acalmávamos.
Descíamos em Ubatumirim, e,  divididas em equipes,  uma equipe ia a pé para o sertão, outra atravessando um rio e depois um morro para a praia Almada e cada equipe durante o dia fazia visitas às famílias, levando uma boa palavra de amizade, um incentivo, uma bênção de Deus.  Muitas vezes comíamos o que nos ofereciam com tanto carinho aquilo que tinham: bananas, farinha doce, café com beiju: que gostoso! À noite, eram eles que vinham ali nas escolas onde ficávamos hospedadas para dormir e guardar nossas coisinhas. Então, pequenas catequeses, orações e depois brincadeiras, cantos com viola ou violão, e até “arrasta-pé”! Ô tempinho bom foi aquele! A última caravana foi em 1974 quando a Rio-Santos já estava adiantada e havia chegado até Ubatuba e mais para frente e logo não foi mais necessário o barco, porque os ônibus o substituíram. Ótimo! Porém, como sempre, ao lado do que é bom, o progresso traz também o que é ruim. Pelo fato de as praias de Ubatuba ser lindíssimas, aqueles que tinham e tem dinheiro, começaram a comprar os locais onde os caiçaras tinham suas casinhas simples, para construir seus casarões. E assim os caiçaras foram sendo empurrados para outros lugares mais isolados, ou não sei dizer para onde. O fato é que a partir daí tudo mudou. E agora, Almada e outras praias por ali já são dos turistas.

           Envio algumas fotos desse belo tempo das inesquecíveis caravanas, que gostávamos tanto. As irmãs que sempre iam: Ir. Clara, Ir. Antonia,  Ir. Maria, Ir. Redenta,Ir. Iolanda, e umas ou outras pessoas ou irmãs, uma ou duas vezes.

            Com saudade deste tempo   Ir. Iolanda

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