quarta-feira, 10 de junho de 2020

ESCRAVOS DA VACINA



Cristo da parede (Arte: Estevan)


                Poucas pessoas entendem os motivos da Revolta da Vacina em 1904, no Brasil. Um dos motivos eu dou a conhecer agora. No Ubatuba Documentário está que os senhores, do começo do século XIX, usavam negros como cobaias na condução dos vírus imunizantes, quando a varíola devastava a população no litoral e em Ubatuba. “De forma epidêmica, o último surto verificou-se aqui em 1906”.

                O Seo Filhinho, escreveu:

                Em 19 de agosto de 1805, Antônio José de França e Horta, Cap.-Mor de Santos, comunicava a Manoel Lopes da Ressurreição, Cap.-Mor de São Sebastião, ter enviado à Bahia seis escravos para receberem lá a vacinação contra a varíola, e, de volta, trariam no próprio corpo, nas secreções purulentas, a matéria imunizante, que passariam de uns a outros, numa disseminação vacino-imunizante.

                No regresso da Bahia, ditos portadores escalariam em São Sebastião – como aconteceu – onde o cirurgião que os acompanhava fez a mesma operação em algumas pessoas, com a finalidade de assegurar e difundir a vacinação naquela Vila.  Ao mesmo tempo foi ordenado ao Cap.-Mor de Ubatuba que, por sua vez, mandasse a São Sebastião “alguns rapazes, acompanhados de um professor ou curioso”, para ver, e submeterem-se à dita operação, os quais, de regresso, devidamente inoculados, seriam portadores da matéria imunizante.

                Era tão grande – e louvável – o interesse pela difusão daquela empírica vacina, que Horta fez solicitar também ao Cap.-Mor de São Luiz do Paraitinga que, por sua vez, mandasse alguém aqui a fim de submeter-se à mesma prática e de volta levar para serra-acima o vírus necessário ao combate à tremenda enfermidade naquela Vila.

                Convém esclarecer que houve evolução.

           Em 29 de novembro de 1848, o Presidente da Província ordenou ao Comissário vacinador que remetesse a Ubatuba algumas lâminas de pus virulento, recomendando à Câmara que providenciasse a vacinação. Está claro que com aquelas lâminas seriam efetuadas as primeiras vacinações e, a seguir, das pústulas que se verificassem nos pacientes vacinados, seria captado o material necessário, para empírica vacinação em outros indivíduos.

                Ou seja, continuava valendo os dois modos: pus do indivíduo e pus da lâmina. Eu desconfio que  também me revoltaria. Você imaginava mais esse uso dos escravos? "Fizeram deles Cristos!", diria  Mestre Sabá, o negro da Pedra Branca.

2 comentários:

  1. Como sempre um documentário fantástico. Obrigada amigo por compartilhar sabedoria.

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  2. Gratidão. Vou fazendo a minha parte. Abraços

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