Que beleza! (Ubatuba antiga - Arquivo da internet) |
Faz poucos anos que eu fui
conhecer algo que muitos já conhecem desde que nasceram: uma boiada. Se
assustou? É que no litoral, ao menos em Ubatuba, não fez parte da economia
local a criação de gado. O motivo? Não temos extensas áreas planas. As que
poderiam ser minúsculos pastos, quase sempre eram brejos, áreas alagadas, onde pescávamos,
caçávamos, coletávamos orquídeas etc. Também servia à extração de caxeta,
junco, taboa e outros produtos importantes à cultura caiçara. Porém, me
enviaram há algum tempo uma fotografia impressionante: bois na praia da
Lagoinha. Isso Mesmo! Noooosssaaaa!!!
A praia da Lagoinha é aquela próxima
da Maranduba, onde, na margem da rodovia, estão ainda algumas colunas de uma suposta fábrica de vidro, próximas da portaria do condomínio principal. “Patrimônio público!”. Adentrando no bairro, você conhecerá as
famosas ruínas da Lagoinha. Consta que, primeiramente pertenceu ao Capitão
Romualdo, possuidor de vasta cultura de café e cana de açúcar, cuja produção de
açúcar mascavo e de aguardente era embarcado para o estrangeiro. A construção
de uma fábrica de garrafas era parte de um projeto em exportar a aguardente
devidamente embalada. Onde buscar areia boa? No Sapê, onde eu nasci! Ali, nas
cercanias do Porto do Eixo, onde a areia era branquíssima, até recentemente estavam as duas enormes lagoas, de
onde teriam levado a areia necessária ao empreendimento, segundo as falas dos
mais velhos. Os antigos caiçaras também falavam de um castigo de Deus sobre a área da Lagoinha, sobre seu dono. “Foi castigado porque mijou na imagem de São
Pedro, o protetor da fazenda”. Ah, mijão!
O Seo Filhinho tem outra
explicação:
“Sua esposa, D. Mariana,
enlouqueceu, dissipou toda a fortuna de seu marido. Nos seus desvarios, a que
foi levada por ciúmes mórbidos, escorraçava os escravos de trabalhos,
paralisando as atividades da fazenda por prolongado tempo, justamente nos
momentos mais precisos; inutilizava as colheitas nas tulhas abarrotadas;
incendiava canaviais inteiros e fugia muitas vezes, levando e esbanjando, tanto
quanto possível, vultosos valores do marido. Certa vez, emissários que a
procuravam, depois de uma larga ausência, foram encontra-la arrasada, faminta,
maltrapilha, em Angra dos Reis, para onde havia caminhado a pé, enfrentando as
agruras daquele tempo”.
Imagine mais
de duzentos quilômetros a pé! Depois disso, a área passou por outros projetos.
O finado Agostinho, que agora nomeia a escola do bairro, próxima das ruínas da
fábrica de vidro, disse um dia:
“O
Estevené veio depois, quando a fazenda do Romuardo já estava tomada pelo mato havia tempo. Ele fez um plano mirabolante, conseguiu parceria, mas o banco, de onde havia
promessa de dinheiro, faliu quando a coisa começava a acontecer. É da mesma
época da ferrovia que não aconteceu, contam os antigos”.
Eu desconfio que depois disso alguém, aproveitando a pouca grama, criou
uns bois. "Tinha uns bois por aí: do João Pimenta, do Dito Carlos". Pena que o Agostinho já se foi! Ele teria mais explicações nesse negócio de boi na praia. É quase certo que a escassa alimentação levou as reses para o jundu. Dali para a areia
se bronzear um pouco foi um pulo. Resumindo: A vaca não foi para o brejo, pois
o mar era mais fascinante. Boiada esperta!
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