Sabiá na janela (Arquivo L. L.) |
Dias atrás recebi uma imagem do
amigo Carlos Lunardi, morador de Caraguatatuba, o município vizinho. “Bom dia Zé, como é o nome desse pássaro?
Não é o pássaro preto porque o bico é amarelo”. Estava ali perto, numa das
janelas do prédio. Na hora pensei no sabiá-una
(sabiá-preto). “Tem mais jeito de
sabiá-una ”.
Outro
dia, na beira da estrada aqui perto, avistei uma caneleira florida. É uma
árvore imensa, cujos frutos sabiá-una gosta muito. Então pensei no sabiá na
janela de um edifício, quase no centro da cidade: o que será que ele estava
querendo ali? E voltei a pensar na fruteira dele que ainda está em flor. “É sempre no mês de agosto que o sabiá-una desce
o morro. Sabe por quê? Porque a caneleira está cheia de frutos maduros. Ele vem
para se alimentar. Depois volta para o mato, bem no alto dos morros, onde se
criam. Você nunca verá um ninho de sabiá-una aqui em baixo, por perto de nós”.
Quem me explicou isso foi o Mané, irmão do Nicodemos, lá do Sertão do Ingá, caiçaras que
eu muito admiro. “É mesmo! Me lembrei de
quando era criança! Era assim mesmo!”.
Quando eu era criança, o mato
estava bem perto da minha casa. Ali em volta, além das caneleiras, também tinha
jiçaras, que dão o melhor palmito que conheço. Seus cachos,
repletos de coquinhos pretos, também atraiam os passarinhos (tiribas, sabiás, tucano,
jacu...). Então, o mês de agosto era uma algazarra o dia inteiro porque a
alimentação deles era farta. Mesmo que sempre tivesse alguém estilingando ou
bodocando os coitados, eles pareciam não diminuir enquanto durassem os frutos.
O melhor do sabiá é o seu canto! Quase sempre a mamãe pediu silêncio para nós
ao distinguir uma cantoria especial. É, tem disso! De vez em quando aparecia
algum deles com um canto mais bonito que os demais. Mamãe era especialista,
tinha um ouvido muito bom para identificar algo que fazia a diferença entre
tantos passarinhos cantando. Então, quase sempre ela punha o dedo esticado
sobre os lábios: “Chiiiiuuu, escutem.
Tem um cantor pedindo a nossa atenção.
Reparem que ele não está muito perto, mas vem chegando na caneleira. Daqui a pouco
ele estará aqui, no cisqueiro. A gente
merece escutar essa maravilha!”. E a gente prestava atenção nos sons. Assim fomos aprendendo a apreciar os diversos passarinhos e seus
maravilhosos cantos. Nos dias de hoje, nas árvores que eu plantei, a “minha
reserva particular” conforme diz a mana Ana, sempre tem um som especial. Nesta
semana parei ao ouvir o trinca-ferro. Ontem, no ipê, cantarolou por quase uma
hora um bonito-fogo, também conhecido por gaturamo. “Ainda bem que estou em casa!”. Desconfio que o passarinho avistado
pelo meu amigo, numa janela da vizinhança, deve ter sentido cheiro de banana
madura. Talvez estivesse com fome. Na próxima vez, Carlos, espero que o sabiá-una venha
na sua janela para uma cantoria. Você merece! A sua família merece!
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