Chove, faz brotar coisas boas (Arquivo JRS) |
O amigo Dito,
morador de muitos anos na área do Sertão da Quina, adotado pelo
povo dali, faz observações interessantes após a chegada do asfalto
no local.
Nós
éramos felizes e são sabíamos é a conclusão que eu cheguei após
ponderar sobre o antes e o após o asfalto no bairro do Sertão da
Quina.
Muito
embora eu não more em rua asfaltada, nem tampouco iluminada, faço
uso de algumas que receberam tais benefícios. Analisando o antes e o
depois, cheguei à conclusão que o custo supera o benefício, de
longe, de muito longe!
Em
primeiro lugar, as nossas ruas não têm largura apropriada para
serem asfaltadas. Segundo: as pessoas por acharem que o asfalto iria
valorizar suas propriedades, aproveitaram até o último centímetro
de terreno. Terceiro: a falta de consciência das pessoas que acham
que o automóvel é para tudo e em todas as horas. Parece exagero
alguém falar que existe hora de rush no Sertão. Quem quiser ver é
só ficar entre o campo de futebol do bairro e a esquina do Moisés.
Outra coisa que tem me causado espanto é o fato de que os caiçaras
natos agora evitam sair às ruas, mas não sei se conscientes ou não.
Cheguei a essa conclusão há algum tempo, pois ao cumprimentar as
pessoas, ela vêm com a seguinte frase: “Você anda sumido”.
Como, se eu vou no Sertão todos os dias!? A verdade é que as
pessoas não se deram conta que o progresso esperado não deu o
resultado esperado. Outra coisa notória é a qualidade do nosso
asfalto: coisa triste!
Há
quem possa dizer: “Você diz isso porque não tem carro”.
Então é preciso ter carro para saber o que está certo ou errado?!?
Então, vamos dividir o mundo entre os que têm carros e os que não
têm carros?
Embora
não existam verdades absolutas, o que se vê e o que se sente é
que a tendência é piorar. A cada dia que passa, vê-se mais carros
e mais motos (substitutos não naturais das pernas). Então vêm as
mudanças de comportamentos, principalmente dos jovens que não usam
os veículos para se locomoverem (o que seria o mais lógico). Ao
invés disso, fazem verdadeiras arruaças noite adentro,
principalmente nos fins de semana.
Mudanças
de hábitos é o que mais se vê depois do asfalto: gente que andava
alguns quilômetros, hoje não anda metros a pé. Hoje, até os
buracos são diferentes: os do asfalto são mais difíceis de
consertar, aumentam mais rápido. E ainda: quem se desvia deles corre
o risco de colisão.
Saudade
é a única palavra que cabe quando me lembro de antes do asfalto.
Talvez um dia eu tenha um carro (incoerência?) para ir mais longe.
No sertão é tudo perto.
O
asfalto diminui o tempo da distância a ser percorrida, porém
aumenta a distância entre as pessoas.
Para
refletir: Queria ter o que tinha quando queria ter o que tenho agora.
Benedito
Evangelista Filho (Galo)
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