Canoas na Barra Seca (Arquivo JRS) |
Parabéns para a minha Gal que, neste dia (10 de
dezembro), completa mais um ano de vida.
Oba!
Maria e Estevan estão de férias! Ambos estudam na Universidade Federal de Juiz
de Fora (MG). Então, com a devida aprovação, apresento agora o trabalho do
Estevan, na disciplina de Hidrogeografia. Trata-se de relação entre poema, os
objetos estudados na disciplina e a foto exposta (canoas caiçaras na praia da
Barra Seca, em Ubatuba).
Se
nos orgulhamos de ambos? Lógico! Nosso filho e nossa filha são o nosso capital
cultural!
"Vós, com tantas terras,/ Por
que quereis meu pedacinho de céu,/ Meu ranchinho à beira-mar,/ As terras do meu
avô,/ Minha escola e meu diploma/ Do ofício de pescador?" (10-15). SANTOS, Domingos Fábio dos. Peixe-palavra (Poesia caiçara). São
Vicente, SP, 2012.
O trecho do poema Protesto Caiçara, de Domingos Fábio,
caiçara da praia da Fortaleza, retrata bem o conturbado processo de urbanização
ocorrido no município de Ubatuba-SP, e do qual é feito pouco caso, porém até
hoje provoca – e cada vez mais – problemas relacionados ao meio ambiente e à
sociedade, que afetam diretamente no modo de vida da população, com destaque
aos povos tradicionais.
Dos anos 60 até os anos 70,
verificou-se um significativo crescimento urbano nas praias de Ubatuba, sendo
isso um resultado direto do crescimento do turismo, influenciado pela beleza
natural e pela facilidade de acesso por conta das estradas recentemente
abertas. Com a emergência do setor de turismo, cresceu a especulação
imobiliária em cima das áreas próximas à praia e, no caso do sertão, próximas
aos rios. Os caiçaras de então, que viviam predominantemente da pesca, mas
também da coleta e da agricultura familiar, viram-se coagidos pela especulação,
desapropriação e mesmo invasões, em alguns casos, a migrar para o centro da
cidade e para o interior, em áreas como os bairros da Estufa (1 e 2) e do
Itaguá, antes ocupados por manguezais com grande biodiversidade e que
sustentavam a economia familiar, além de serem adaptados ao regime das águas
dos rios Tavares e Acaraú, hoje poluídos e constantemente inundados, trazendo
diversos problemas para as famílias mais simples.
O poema aborda diretamente a
questão da especulação das terras litorâneas, que foi onde mais se notou o
processo de urbanização e construção de empreendimentos imobiliários como
condomínios e residências de veraneio de alto padrão: “Vós, com tantas terras”
(10). Foi este o principal motor da migração dos caiçaras da praia para a planície
litorânea do centro do município e sertões, destino comum dos imigrantes menos
abastados atraídos pelas ofertas de emprego relacionados à construção civil e
turismo. A perda do espaço pelas comunidades tradicionais ocasionou num
desmonte do modelo de sociedade e economia que existia então, que se
apresentava numa relação sustentável do povo com a natureza, sem a exploração
predatória do mar e da terra, com respeito ao regime dos rios e ao ciclo de
vida de caças e pescados. Foram retirados a “escola e o diploma”(14) do “ofício
de pescador”(15) de um povo cuja vida era essencial e intimamente ligada à
água, seja na forma do mangue, do rio ou do mar, e dessa forma foi retirada sua
identidade cultural, o caiçara foi definitivamente colocado na globalização,
tornando-se dependente de fatores sócio econômicos que naturalmente não
afetariam seu estilo de vida, podendo-se interpretar assim a “escola e o
diploma”(14) como a terra e o mar na vida das comunidades tradicionais, e que
sem essa relação desses fatores com a vida, é privada ao povo a manutenção de
seu estilo de vida, chamado de “preguiçoso” por aqueles de regiões mais
avançados na globalização e no modelo de produção capitalista – e
principalmente pelos capitalistas em si, que viram naquela área “esquecida” uma
grande oportunidade para investimentos e exploração. O Estado também teve
decisivo papel na retirada de direitos do povo, ao limitar a pesca, o corte de
madeira para embarcações de pequeno porte, dentre outras medidas que provocaram
a necessidade do alinhamento do caiçara com o capital, e não trouxeram nenhuma
melhoria na questão ecológica do município, sendo que esta só se agrava
negativamente a cada dia – o que nos permite inferir que foram medidas com
único e exclusivo objetivo de limitar ao caiçara sua cultura, empurrando-o para
a globalização.
Referências
SANTOS, Domingos Fábio dos. Peixe-palavra (Poesia caiçara). São
Vicente, SP, 2012. p. 20. Disponível em
<https://issuu.com/edicoescaicaras/docs/peixe-palavra_revisado_issuu>
Acesso em 28 nov. 2018
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