domingo, 2 de dezembro de 2018

A CASA NÃO ESTÁ ABANDONADA, A VIDA É LUTA QUE SEGUE



               Vivemos momentos difíceis, mas os piores ainda estão por vir. Digo isto porque um golpe contra os avanços sociais se completou com a eleição presidencial. Acabei de ficar sabendo que o meu tio está bravo com os filhos que votaram naquele que foi responsável pelo retorno dos médicos cubanos à pátria: “A minha médica era cubana, foi-se embora por conta das declarações do presidente eleito. Quero ver se eles vão, agora, pagar uma consulta para mim! Sabe quando? Jamais!”.

               Assim como o titio, outros caiçaras e muitos outros pobres já estão à míngua em muitos pontos deste Brasil. Não há atendimento médico suficiente. E quem deve ser responsabilizado? Sim, aqueles que votaram naquele que coroou um esquema cruel, demonizando as políticas sociais que estavam sendo implantadas a partir do governo Lula. Agora, a elite mandante do golpe está feliz novamente. E voltamos a temer o destino da nossa mata (Atlântica), das matas ciliares que protegem nossos rios, dos nossos poucos jundus que  restam, das terras indígenas e quilombolas, das possibilidades de estudos dos nossos filhos etc. Está ou não está ficando pior?

               Eu, em duas ocasiões tive oportunidades (1986 e 1991) de me encontrar com estudantes cubanos, de captar em prosas e debates  o altruísmo daquele povo. Minhas aspirações, a escolha de amizades, além de uma companheira amorosa e esclarecida para o resto da vida,  me levaram a enxergar além da separação das pessoas entre boas e más, em ver os interesses que as movem. Na verdade, é o capitalismo, a partir dos interesses da maior nação capitalista (EUA), que está no comando do Brasil e do mundo. É por isso que o presidente eleito bate continência ao mínimo sujeito que esteja representando a forte nação do Norte. Subserviência total!

               Foi uma resistência ao modelo expoliativo dos Estados Unidos que levou os idealistas cubanos a construírem a sua resistência. Em Cuba você estuda gratuitamente até se formar, não há analfabetos, exporta médicos etc. Um amigo, em viagem por aquele país no ano passado, comentando os muitos momentos, assim se expressou: “Em nenhum momento eu senti insegurança nas ruas e nos lugares cubanos. Não há morador de rua. Tudo é muito limpo e arborizado.  Aproveitei bem a viagem”.

               Agora, tendo em mãos um relato de um padre (João Bosco de Deus), faço questão de pinçar alguns trechos:

Estive nos dias 27/07 a 08/08/2018 em Cuba. Fui com duas amigas aqui da paróquia visitar  a família do nosso amigo Osmaydes que é médico cubano e atende aqui em Nova Xavantina/ MT pelo projeto “Mais Médico” [...] Alguns pontos me deixaram impressionado:
- Estruturas antigas e ultrapassadas nas casas e meios de transportes.
- Certa restrição em relação à alimentação. Não passam fome e não têm miséria. Não têm a variedade e a oferta que temos, mas não têm o desperdício que fazemos também.
- Assumem com muita seriedade e presteza suas funções na sociedade.
- A segurança com que se pode andar pelas ruas e cidades sem violência.
- A grande defesa do governo e do regime  em que vivem.
- A forma intensa com que tratam e reverenciam seus heróis nacionais.
- O grande número de pessoas de religião africana que convivem em comum  com a Igreja Católica. Eles andam todo de branco pelas ruas.
- Povo muito trabalhador. O trabalho é algo que está na “alma” do cubano.
- Por último, destaco a humildade e simplicidade do povo cubano ao mesmo tempo com semblante firme e soberano naquilo que desempenham.
              
               A vocês, meus parentes caiçaras(irmão, primos, cunhado...), que ajudaram no resultado da última eleição por assumirem essa leitura dominante e superficial do mundo, vocês que foram feitos marionetes pelos fios da elite deste país: Quem serão os responsáveis pelo massacre dos mais pobres? A quem vão atribuir culpa quando milhares de jovens tiverem as portas das universidades fechadas? E o controle até mesmo do senso crítico via educação escolar, com punição pelo Estado, está certo isso? Vocês que, graças à mídia, renegam a condição de pobres e se colocam a favor dos ricos vão fazer o que agora?

               Em tempo: Os mais necessitados  já sentiram a falta desses médicos cubanos aqui no meu bairro, no Ipiranguinha. Aviso que a casa não está abandonada, que a resistência continua.

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