quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

TUDO DENTRO DA LEI



O meu painel em papel reciclado (Arquivo JRS)


               A minha infância foi feliz, apesar de viver muito pobremente (no sentido de comodidades, de facilidades tecnológicas etc.) nas diversas praias e morros da vivência em família. Mas me orgulho de ter parte do mérito pela preservação de tantas coisas de valores ambientais e culturais proporcionadas à minha esposa, aos meus filhos e amigos.

               Os meios de sobrevivência do povo caiçara, desde muito tempo, estavam ligados à terra (cultivo, caça etc.)  e ao mar (peixes, mariscos etc.). Então fomos matriculados no sistema educacional escolar. Nas diversas escolas fomos aprendendo a ler, escrever, fazer contas. Nelas aumentamos a nossa socialização e a nossa compreensão de mundo. Novas leituras se fizeram necessárias para entender os fenômenos novos para nós, tais como especulação das terras, construção de muros entre as posses, abertura de estradas, aterros de mangues e de gamboas, construção de mansões sobre as costeiras etc. Assim entendemos que alguns se enricam às custas de outros que empobrecem. Porém, há pessoas que, engajando-se em movimentos sociais e em partidos políticos, tomam as dores dos marginalizados, dos excluídos das riquezas da nossa Terra. Desse modo vão aparecendo as leis favoráveis aos trabalhadores, àqueles que foram marcados apenas para gerarem riquezas a outros... Ou que já nasceram excluídos, dando a vida aos poucos, como um aborto a longo prazo.

               Agora, ao findar de mais um ano letivo, eu faço um balanço: pelas redes sociais e pela televisão os pobres são controlados por aqueles que continuam garantindo seus lucros a qualquer custo. As leis, pouco a pouco, pela falta de reflexão da maioria e pela ganância de mais um tanto, se voltam contra os excluídos. Qualquer ajuda de custo de filho de juiz ultrapassa de longe o salário de um professor. Um salário mínimo, frente ao aumento de preços de tudo, é uma vergonha, mas as leis vão continuar arrochando a vida dos trabalhadores. “Tudo dentro da lei!”.
               Neste momento estou me lembrando de um filme (Tempos modernos) de Charles Chaplin, onde, no início da fita, tal como uma manada de animais desesperados em direção a um curral, os trabalhadores adentravam à fábrica. Animais em série, agindo da mesma forma, sendo conduzidos assim. Ou seja, sem reflexão. Para quê? Para não perceberem que suas vidas são sugadas em benefício de poucos.  Se tornam instrumentos de manobra pela massificação cultural.


               Foi no objetivo de mostrar que a escola pode fomentar reflexões que induzam a outras possibilidades que não as de exploração do ser humano e de destruição do planeta que nós, da área de Humanas do CEEJA – Caraguatatuba, apresentamos no mês de novembro o tema do Trabalho na era da globalização. Pelos semblantes no momento da oficina e seguintes, desconfio que a uma parte do que foi semeado caiu em solo rochoso, castigado pela ideologia dominante. Pode ser que  todo trabalho não dê em nada, não vá germinar. Pelas circunstâncias, sonhar com frutos nem é utopia. Vai comprovando a frase da pensadora Simone de Beauvoir: “O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário