O meu painel em papel reciclado (Arquivo JRS) |
A
minha infância foi feliz, apesar de viver muito pobremente (no sentido de
comodidades, de facilidades tecnológicas etc.) nas diversas praias e morros da
vivência em família. Mas me orgulho de ter parte do mérito pela preservação de
tantas coisas de valores ambientais e culturais proporcionadas à minha esposa, aos
meus filhos e amigos.
Os
meios de sobrevivência do povo caiçara, desde muito tempo, estavam ligados à
terra (cultivo, caça etc.) e ao mar (peixes, mariscos etc.). Então fomos
matriculados no sistema educacional escolar. Nas diversas escolas fomos
aprendendo a ler, escrever, fazer contas. Nelas aumentamos a nossa socialização
e a nossa compreensão de mundo. Novas leituras se fizeram necessárias para
entender os fenômenos novos para nós, tais como especulação das terras, construção
de muros entre as posses, abertura de estradas, aterros de mangues e de gamboas,
construção de mansões sobre as costeiras etc. Assim entendemos que alguns se
enricam às custas de outros que empobrecem. Porém, há pessoas que, engajando-se
em movimentos sociais e em partidos políticos, tomam as dores dos
marginalizados, dos excluídos das riquezas da nossa Terra. Desse modo vão
aparecendo as leis favoráveis aos trabalhadores, àqueles que foram marcados
apenas para gerarem riquezas a outros... Ou que já nasceram excluídos, dando a
vida aos poucos, como um aborto a longo prazo.
Agora,
ao findar de mais um ano letivo, eu faço um balanço: pelas redes sociais e pela
televisão os pobres são controlados por aqueles que continuam garantindo seus
lucros a qualquer custo. As leis, pouco a pouco, pela falta de reflexão da
maioria e pela ganância de mais um tanto, se voltam contra os excluídos.
Qualquer ajuda de custo de filho de juiz ultrapassa de longe o salário de um
professor. Um salário mínimo, frente ao aumento de preços de tudo, é uma
vergonha, mas as leis vão continuar arrochando a vida dos trabalhadores. “Tudo dentro da lei!”.
Neste
momento estou me lembrando de um filme (Tempos
modernos) de Charles Chaplin, onde, no início da fita, tal como uma manada
de animais desesperados em direção a um curral, os trabalhadores adentravam à
fábrica. Animais em série, agindo da mesma forma, sendo conduzidos assim. Ou
seja, sem reflexão. Para quê? Para não perceberem que suas vidas são sugadas em
benefício de poucos. Se tornam instrumentos de manobra pela massificação cultural.
Foi
no objetivo de mostrar que a escola pode fomentar reflexões que induzam a
outras possibilidades que não as de exploração do ser humano e de destruição do
planeta que nós, da área de Humanas do CEEJA – Caraguatatuba, apresentamos no
mês de novembro o tema do Trabalho na era
da globalização. Pelos semblantes no momento da oficina e seguintes, desconfio
que a uma parte do que foi semeado caiu em solo rochoso, castigado pela
ideologia dominante. Pode ser que todo trabalho não dê em nada, não vá germinar. Pelas circunstâncias, sonhar
com frutos nem é utopia. Vai comprovando a frase da pensadora Simone
de Beauvoir: “O opressor não seria tão
forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos”.
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