quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

LENDA DA SEREIA (II)

Sereia  sob encomenda (Arte: Maria Eugênia - Arquivo JRS)


               Na prosa de Idalina, Moisés, continuando o assunto da sereia:

               “O tempo foi passando... O jovem pescador caiçara retomou o gosto pela vida, se casou com Emília, novamente se empolgou pela pescaria. Numa noite, em tempo de tainha encostando, vindo do Sul, o vento fez os pescadores, que estavam no correr da linha da Ponta Grossa, procurarem o rumo da praia  do Itaguá. Foi quando ouviu-se um canto monótono, mas suavíssimo, chamando por um amor ausente. Os homens, extasiados, procuravam distinguir através da escuridão, de onde vinha o som tão doce e suave.
               A ‘Norma’, assim chamava-se a canoa do Guilherme, foi ficando para trás, e Brás, endiabrado com sempre, gritou: - ‘Ouve, Guilherme! Tu já esqueceste da mulher-peixe? Olha que ela está te chamando!’.
               O rapaz não respondeu, Se os seus companheiros pudessem enxergar na escuridão, veriam que, pelas faces do moço pescador, as lágrimas desciam lentamente, enquanto seus dedos crispados, comprimiam contra a palma da mão um pequeno amuleto contendo uma oração da Virgem Maria, para que ela protegesse contra o desejo da sereia, escapando do encantamento. Tinha sido um presente da esposa, apavorada com o que o Brás, muito em segredo lhe contara. E ela, devota de Nossa Senhora, entregara seu noivo nas mãos de Deus e de sua bendita Mãe... A partir dessa noite, os pescadores não mais contaram com Guilherme para a pesca da tainha. Renunciou de vez. Jamais retornou ao mar”.

               Idalina, indagou curiosa: -  ‘E de que ele foi viver depois, Moisés?’.

               Moisés, todo sorridente explicou: - ‘Foi trabalhar na roça, teve muitos filhos. Depois de velho contava histórias aos netinhos. Olha, dona: o mais moço dos filhos dele foi meu avô. Só que nunca teve a sorte do Guilherme. Nem ele nem eu. Falta de sorte, dona! Também meu pai e eu sempre fomos feios como o diabo! Nenhuma sereia cantaria para nós!’.

               E Idalina confessa que disse isto para agradá-lo:   - ‘Até que não. Se você continuar contando lindas histórias como esta, vai ver como ainda fica bonito'."
              


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