Imagem do Google |
No último dia 19 perdemos um
grande mestre: Rubem Alves.
Rubem Alves, cujas obras eu tive
contato na metade de 1980, me encantou sempre com sua linguagem despojada, seus
temas incisivos e tão próximos da gente. Por isso sempre fiz questão de guardar
recortes, de adquirir obras e de acompanhá-lo em suas palestras sempre que
possível.
Tenho sempre como leitura
obrigatória as suas reflexões a respeito da educação. Em forma de metáforas,
esse homem sempre trouxe outras luzes para entender temas importantes.
Numa ocasião, numa discussão em
torno dos vestibulares e da estrutura de ganhar dinheiro nisso, os chamados
cursinhos preparatórios, o devotado professor Ênio trouxe o texto de Rubem
Alves com o título de O país dos dedos gordos (5), incluído na obra Estórias de
quem gosta de ensinar. Assim está escrito:
“Enganam-se os que pensam que os
cursinhos são organizações escolares dedicadas a ministrar um saber avançado.
Entre as disciplinas que normalmente servem em suas dietas encontram-se sempre
a ansiedade como tempero gratuito. É que ela é parte integrante das liturgias
que acontecem em volta dos vestibulares. Sem a magia negra da ansiedade eles
seriam eventos banais, sem maior importância. É a ansiedade que lhes dá sua
dignidade específica, qualidade quase religiosa perante a qual todos se curvam,
sabedores de que ali se joga com o sentido da vida. Daí o seu poder para
penetrar no corpo; aquele frio na barriga, os pulos sobressaltados no meio do
sono, os olhos abertos que se recusam a dormir, as diarreias, a agressividade
que gostaria de quebrar muita coisa e se contenta em aparecer domesticada sob a
forma de uma úlcera”.
No fundo, o saudoso mestre dizia que “tudo se mobiliza para um único fim: engolir as dietas sem gosto preparadas
por quem sabe mais. A ansiedade tem esse estranho poder: ela torce o corpo e o
obriga a fazer coisas que ele não deseja saber. Forma refinada de tortura”.
E sabe de onde ele partiu, nesse
tema ansiedade? “Lembro-me de uma advertência que se encontra, se não me engano
em Ubatuba. Quando o jovem se assenta no trono, para um momento de concentração
fisiológica, sua atenção é atraída por duas linhas cuidadosamente escritas: ‘Enquanto
você está aqui cagando, há um japonês estudando...”.
Enfim, um grande pensador que se
tornou imortal por suas reflexões tão concretas. De forma especial, agradeço às
amigas Ieda Ribeiro e Louise, suas antigas alunas, pelas belas prosas e saudosas recordações desse mestre. Viva Rubem Alves!
Nenhum comentário:
Postar um comentário