Mural de outros tempos (Arquivo JRS) |
Ao escrever a respeito do coco pati, a minha prima Nádia do
Prado, criada no jundu da Praia da Fortaleza, fez questão de dizer o seguinte:
“Amode que eu já comi muito com farinha de
mandioca . E era bom heim!”.
Pois é! Como um peixe na toca, aos poucos vão aparecendo vislumbres
dos nossos hábitos caiçaras! É bom que alguns se recordem do que viveram,
enquanto outros vão tomando conhecimento.
Ao ler o escrito da Nádia, me recordei de uma tarde distante no Sapê,
na casa da vovó Martinha. Estávamos só nós: eu - bem moleque ainda! -, ela e a
tia-bisavó Izolina. De repente, a vovó diz: “Vamos fazer farinha de coco para o
café. Zezinho, pega a roçadeira e um saco ali no canto. A gente volta logo,
titia”. Quando me vi, já estávamos atravessando a vargem em direção ao Morro
dos Amorim, distante quase dois quilômetros da casa. Sobre a terra preta
encharcada, os paus roliços serviam de caminho entre abundantes ciosas, davam
firmeza aos pés.
No aceiro de uma roça de mandioca, lá no morro, tinha alguns coqueiros
indaiás. Ela escolheu um cacho caprichado, amarrou a roçadeira numa vara de
capororoca comprida e logo nós vimos ele rolando no capim-melado. Na hora eu
pensei: “Meu Deus! Quem vai aguentar carregar esse cacho até a casa?”.
Para
quem não conhece, o indaiá dá um grande cacho. Além do mais, é difícil de
carregar porque tem uma ponta incomodante em cada coco. A vovó só disse: “Este
tá bom”. Em seguida dobrou o saco, ajeitou sobre um ombro, lançou aquele enorme cacho, deu a ordem para que eu
levasse a roçadeira e saiu andando naquela picada precária. Eu me admirei da força
da vovó, que estava nos sessenta anos.
Aquela distância ela fez num único lance. Quer dizer: não parou para
descansar nenhuma vez. Ao chegar no terreiro, jogou a carga ao lado de uma
pedra usada para quebrar cocos (pindoba, indaiá, brejauba, jarobá...). Fez um
descanso breve. Logo estávamos nós três a quebrar coco. Depois de uma certa
porção, a titia começou a socar no pilão, acrescentando um pouco de açúcar e
arrematando com a farinha de mandioca feita ali mesmo a cada quinzena. E por
fim, em torno de uma chaleira de café, era só alegria com farinha de coco
indaiá!
É, com sempre repetia o vovô Estevan: “Naquele tempo o dinheiro era
custoso, mas o de comê era em fartura”.
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