Hoje, ao escutar a cantoria dos galos da vizinhança, achei por bem rememorar o saudoso Mané Bento.
O meu parente Mané Bento, apesar de boa pessoa, era muito preguiçoso. Mas preguiçoso mesmo! Apesar de sempre ter ouvido tal adjetivo sobre ele, eu só me convenci disso depois do episódio do galo. Foi assim: na nossa rotina de caiçaras, há quarenta anos, quando os primeiros turistas estavam se instalando pelos jundus, todas as praias mansas, que ofereciam as condições propícias, tinham os seus os seus ranchos de pesca. Era preciso um mar muito bravo para impedir que as canoas não descessem dos rolos e fossem buscar os maravilhosos pescados através de tresmalho, linhada, puçá, puxada de rede na praia etc.
O meu parente Mané Bento, apesar de boa pessoa, era muito preguiçoso. Mas preguiçoso mesmo! Apesar de sempre ter ouvido tal adjetivo sobre ele, eu só me convenci disso depois do episódio do galo. Foi assim: na nossa rotina de caiçaras, há quarenta anos, quando os primeiros turistas estavam se instalando pelos jundus, todas as praias mansas, que ofereciam as condições propícias, tinham os seus os seus ranchos de pesca. Era preciso um mar muito bravo para impedir que as canoas não descessem dos rolos e fossem buscar os maravilhosos pescados através de tresmalho, linhada, puçá, puxada de rede na praia etc.
Da
diversidade de técnicas para garantir o peixe nosso de cada dia, de todos os
recursos, eu sempre fui encantado pelo ritual da puxada de rede na praia. Um
dos meus avós, o vovô Armiro, era dono de canoa e de rede, juntamente com o seu
irmão; foi com quem eu mais convivi nesse aspecto, vivendo momentos
emocionantes disso tudo. Ao menos um dia da semana a sua rede garantia o
sustento das famílias da praia da Fortaleza. Ao “toque do buzo”, que ficava nos
apetrechos do rancho das canoas, o meu tio-avô Genésio, contramestre da rede,
chamava os camaradas quando o dia ainda estava longe do amanhecer. Apesar do
ritual, tudo era rápido. Logo as remadas estavam sendo intercaladas pela rede
que ganhava as águas piscosas daquele tempo. Depois era só o arrasto compassado,
controlado pelo mestre para que as
cabeceiras chegarem por igual no fechamento do lance, aproveitando bem todo o
esforço e não perdendo o valioso conteúdo que tinha desde palombetas até
robalos e enormes cações. Ninguém fazia caso da miuçalha. Os urubus e garças se
fartavam até não poder mais; sempre tinha um restante que era enterrado para
não feder. Depois dos lances, quando havia mais de um, os quinhões eram
repartidos, todos colocavam tudo em ordem no rancho do jundu para uma próxima
vez e se dirigiam para suas casas. Era uma fartura de peixe fresco.
Numa
dessas ocasiões, quando retornávamos para casa, vimos o Mané Bento descendo o
morro com um galo embaixo do braço. O sol já era alto! Quis saber do meu avô do
que se tratava. Ele logo me explicou:
-
Todo dia ele faz isso porque não gosta de acordar cedo. Então, no serão, ele
leva o galo para um galinheiro na roça. Desse jeito o bicho não o perturba
desde a madrugada. No outro dia, sempre na hora em que todo mundo já está se
arrumando para o almoço, ele busca o coitado que passou a noite isolado de seu
terreiro e das companheiras do galinheiro. Tenho até dó do bicho. Tudo isso porque o Mané Bento é muito
preguiçoso. Você entende agora porque o danado é chamado de preguiçoso?
Assim
se deu o meu convencimento.
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