Tio Salvador e a caçoa, na Fortaleza (Arquivo JRS) |
Canoas da Florentina (Arquivo JRS) |
Tio Neco, vivendo em seu retiro, passeia por todos os lados, em todos os assuntos. Na sua simplicidade tece comentários de tudo, mas a sua preferência é pelas coisas da nossa terra. Este texto foi indicado pelo mano Mingo.
Aproveito para mandar um forte abraço ao meu amigo Napoleão, fiel leitor das nossas coisas.
O verdadeiro caiçara dos tempos de nossos avós
Nas primeiras horas de um novo dia, logo de madrugadinha, lá estava ele de pé. Acendia a lamparina, preparava o café que tomava acompanhado com peixe assado e farinha de mandioca. Abastecia a barriga e saía para pescar.
Preparava o balaio e as linhas de pesca, que naquele tempo era de cordonel. Se deslocava até ao rancho na praia, lugar onde as canoas dos pescadores ficavam guardadas.
E ali chegando tirava a sua canoa do meio das outras, colocando-a sobre os rolos de madeira e empurrava-a até ao mar.
Não podia esquecer o puçá. Arrumava os apetrechos na canoa e lançava-a na água até que flutuasse, pulava dentro e ficava em pé para remar até ao camaroeiro (lugar onde os camarões se agrupam). Ali ele jogava o puçá, amarrava o cabo de sustentação no banco da canoa e arrastava por um certo tempo.
Quando tinha capturado camarões em quantidade suficiente, o pescador remava mar adentro pelo tempo de umas quatro horas e ali começava a pescaria.
A pequena embarcação era suficiente para dois pescadores, que remavam de um lugar para outro até encontrar o peixe.
Lá pelo meio-dia, horas dadas pela altura do sol, estavam eles retornando à praia.
Seus familiares estavam esperando e não ficavam decepcionados. O pescador caiçara sempre voltava com a canoa cheia de peixes. Corvina, bagre, cação, xaréu... enfim, uma infinidade de peixes. Era tempo de fartura, ninguém passava necessidade de alimentos.
Existia o essencial para a sobrevivência, todos tinham roça de mandioca e faziam farinha, colhiam feijão, plantavam café e tinham bananal nas encostas dos morros. Viviam da terra e do mar que dava o que era preciso para fazer o azul-marinho, a alimentação preferida dos caiçaras.
Após uma refeição dessas vinha uma sonolência danada. Mal dava tempo de buscar a esteira que estava guardada em pé atrás da porta, jogar na sombra de uma árvore do quintal e dormir a sesta.
Eta vida boa! Este era o viver do caiçara nos bons tempos.
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