Beija-flor aninhado em galho de graviola (Arquivo Anilsi) |
Bem-vindo, Fernando Lopes!
Entre um monte de fotografias, peguei algumas de crianças, outras de praias, mas escolhi esta de um beija-flor para representar o quanto tudo é sensível, está sempre sofrendo transformações e pode carregar marcas para o resto da vida.
Veja o caso de nossa cultura: o que resta de original, capaz de orgulhar as gerações mais novas? E o que levou a força de tantos jovens que pareciam promissores, capazes de criarem uma resistência e darem novas propostas?
É...tudo é frágil... muito frágil...desde o tempo em que os nossos avós tinham de viajar até a cidade de Santos para remediar a pobreza do nosso lugar. Para se ter uma ideia desses outros tempos, reproduzo uma entrevista registrada pelo Domingos com o saudoso Sebastião Rita, do Itaguá:
Olha, eu vou contar para você...eu não estou contando mentira, você sabe que o pessoal do tempo antigo não conta mentira... Aqui no Itaguá e na praia do Perequê, tinha lance em 1914...eu sou daquele tempo...rapaz novo, mas ainda me lembro...davam lances de quinze, dezesseis mil tainhas. Na Praia do Tenório demos lance de até onze mil peixes. Na Praia Vermelha foi oito mil e poucos...Uma vez, o Virgílio Pedro, das Toninhas, juntou as redes dele com a do João Vitório, da cidade, foram pra Ilha Anchieta. Cercaram na Praia do Engenho e mataram vinte e cinco mil. Olha, o peixe estragou-se, porque naquele tempo não tinha barco, não tinha gelo, não tinha nada. A escaladeira era no rio, dia e noite, mas não davam conta. Depois faltou sal e só aproveitamos as ovas.
Depois, eles secavam o peixe, a ova...depois levavam para Santos...Levavam nas canoas de voga. Eram canoas grandes...Guilherme Lisboa, da Praia do Lambert, tinha canoa de voga...Maciel tinha também...Zé do Pinho também tinha...Benedito Felipe também tinha. Cada um tinha a sua canoa para viajar...Iam seis, sete tripulantes...Daqui essas canoas levavam peixe salgado, levavam pinga...Tinha canoa de pegar dez, doze pipas de pinga...Uma pipa pega duzentos litros...Levavam a pinga para vender em Santos. Tinha o engenho da Jundiaquara, tinha o do Perequê...Tinha engenho na Praia Vermelha... Levavam a pinga para vender em Santos. Levavam peixe, levavam banana da terra, cacho verde, às vezes chegava lá quase maduro... Conforme o tempo, levavam cinco, seis dias de viagem. Se o tempo estivesse ruim, ficavam na Barra do Una, às vezes dois, três dias...ancorados, até o tempo ficar bom e mar amansar pra então entrar na Barra da Bertioga...A Barra da Bertioga é uma barra danada...Levavam limão, ovos de galinha, criação, levavam peru, a galinha no jacá, feito de taquara. Vendiam em Santos a macela de fazer travesseiro, erva cheirosa...colhiam, secavam e ensacavam pra levar...aquilo vendia muito...era muito procurado.
Eu fui trabalhar em Santos em 1917...Eu nasci em 1905...tinha doze anos...meu irmão me levou para ajudante...
Meu nome é Sebastião Rita de Oliveira, meu pai é Manoel Francisco de Souza...minha mãe é Ana Resende de Oliveira...Meu pai é lá do Ubatumirim.
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