sábado, 20 de abril de 2013

SOLIDARIEDADE


Bem-vindos Leydiane e Daniel Mattos! (Arquivo JRS)

                          É comum escutar o dizer: "Hoje em dia tudo está de cabeça para baixo". A referência são as muitas transformações no nosso ritmo, nas nossas relações.
                Eu  vivenciei um tempo onde quase não se percebia uma competição pela sobrevivência. “Nem os cachorros brigavam por osso”, costumava dizer o velho Sabá, da Praia da Enseada. Era tempo onde a pobreza imperava, quase não havia dinheiro, mas a natureza nos oferecia de tudo um pouco. Eram muitas as alternativas para se alimentar, para festejar e ser feliz.
                Desse tempo a que me refiro, a solidariedade era maior. Uns apelavam aos outros: “Vai na casa da Livina, filho, pede um pouco de pó de café emprestado”. Os mais próximos se ajudavam regularmente. Prova disso eram  os "pitirões" (mutirões), os ajutórios.
                Depois, com o passar do tempo, a cobiça grassou, pessoas estranhas chegaram “em busca da Terra Prometida”, muros foram levantados. Cada qual foi se isolando com os seus, preferindo os atrativos da televisão, os encantos dos filmes e novelas etc. Hoje, as pessoas já não se visitam mais, “não se importam para que rumo toca o barco”. Além das propriedade com altos muros, temos os condomínios se isolando cada vez mais, se protegendo com seguranças particulares, cercas elétricas etc. Mas elas sentem saudades de outros tempos, de solidariedade! É inevitável não pensar num lugar mais simples, onde os contatos sejam primários, carregados de afeto e ternura, de gentilezas etc. É por isso que de vez em quando eu escuto: “Fulano de tal foi morar na roça”. 
         Também não é difícil, sobretudo em épocas festivas (Festa Junina, por exemplo), em alguma área mais tranquila da nossa cidade (propriedade tradicional, final de rua ...) ver grupos promovendo eventos para fortalecer ou passar a noção de solidariedade aos mais jovens. Digo mais: atualmente, até mais gente se volta para a instituição familiar como esteio para enfrentar as coisas que rondam a nossa existência. São essas combinações - promotoras de solidariedade - que me sensibilizam, pois fazem parte do nosso ser caiçara.
                Aquelas festinhas que as nossas comunidades ou as nossas famílias faziam em determinadas épocas são exemplos de relação social mais solidária. Neste momento vem-me à lembrança o Dia da Pamonha, na casa do Vô Lica, na Estufa. Ninguém queria que aqueles momentos se findassem. Os seus descendentes podem falar muito mais do que eu a esse respeito.
                Sentimos saudades desses tempos, onde gestos de  gentileza eram tão corriqueiros. “É pena! Ainda ontem eles se repetiam a cada instante!”. Conforme já disse alguém é “a busca é por algo que diga que a gente faz sentido neste mundo cruel”.

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