Bem-vindos Leydiane e Daniel Mattos! (Arquivo JRS) |
É comum escutar o dizer: "Hoje em dia tudo está de cabeça para baixo". A referência são as muitas transformações no nosso ritmo, nas nossas relações.
Eu vivenciei um
tempo onde quase não se percebia uma competição pela sobrevivência. “Nem os
cachorros brigavam por osso”, costumava dizer o velho Sabá, da Praia da
Enseada. Era tempo onde a pobreza imperava, quase não havia dinheiro, mas a
natureza nos oferecia de tudo um pouco. Eram muitas as alternativas para se
alimentar, para festejar e ser feliz.
Desse
tempo a que me refiro, a solidariedade era maior. Uns apelavam aos outros: “Vai
na casa da Livina, filho, pede um pouco de pó de café emprestado”. Os mais próximos se ajudavam
regularmente. Prova disso eram os "pitirões" (mutirões), os ajutórios.
Depois,
com o passar do tempo, a cobiça grassou, pessoas estranhas chegaram “em busca
da Terra Prometida”, muros foram levantados. Cada qual foi se isolando com os
seus, preferindo os atrativos da televisão, os encantos dos filmes e novelas
etc. Hoje, as pessoas já não se visitam mais, “não se importam para que rumo
toca o barco”. Além das propriedade com altos muros, temos os condomínios se
isolando cada vez mais, se protegendo com seguranças particulares, cercas
elétricas etc. Mas elas sentem saudades de outros tempos, de
solidariedade! É inevitável não pensar num lugar mais simples, onde os contatos sejam primários, carregados de afeto e ternura, de gentilezas etc. É por isso que
de vez em quando eu escuto: “Fulano de tal foi morar na roça”.
Também não é difícil,
sobretudo em épocas festivas (Festa Junina, por exemplo), em alguma área
mais tranquila da nossa cidade (propriedade tradicional, final de rua ...) ver grupos promovendo eventos para fortalecer ou passar a noção de solidariedade aos mais
jovens. Digo mais: atualmente, até mais gente se volta para a instituição familiar como
esteio para enfrentar as coisas que rondam a nossa existência. São essas
combinações - promotoras de solidariedade - que me sensibilizam, pois fazem parte
do nosso ser caiçara.
Aquelas
festinhas que as nossas comunidades ou as nossas famílias faziam em
determinadas épocas são exemplos de relação social mais solidária. Neste
momento vem-me à lembrança o Dia da Pamonha, na casa do Vô Lica, na Estufa.
Ninguém queria que aqueles momentos se findassem. Os seus descendentes podem falar
muito mais do que eu a esse respeito.
Sentimos
saudades desses tempos, onde gestos de
gentileza eram tão corriqueiros. “É pena! Ainda ontem eles se
repetiam a cada instante!”. Conforme já disse alguém é “a busca é por algo que
diga que a gente faz sentido neste mundo cruel”.
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