sábado, 4 de fevereiro de 2012

“O meu avô é o Targino!”


Estevan no encontro dos rios Puruba e Quiririm para desembocarem no mar (2011)

               Hoje é uma data muito especial: Estevan completa 12 anos. Por isso, o causo do Targino é dedicado ao aniversariante que tanto amamos.

              Italgino Alves Barreto, só conhecido como Targino, sempre foi, como tantos outros, mais um pescador tranquilo. Era do Perequê-mirim; tinha o seu rancho de canoa depois da barra, no canto onde partia um caminho para a Enseada, mais conhecido como Caminho das Três Praias. Era ali, remendando rede ou simplesmente sentado numa pedra, que sempre tinha uma boa prosa. Foi quem nos contou o causo do Lelê, cuja moral era valorizar mais os nomes do que os apelidos. Ei-lo:

                “Os outros contam o causo de um menino daqui mesmo, chamado desde pequeno por Lelê, que não via a hora de ir para a escola. Tinha muita vontade de aprender a ler e escrever. Ao completar sete anos, foi matriculado na Escola Mista da Enseada, perto da casa onde depois moraram, após chegarem de Santos, o Albino e a Idalina Graça. Mais tarde o casal mudou-se para a cidade, onde tocaram um hotel.

                A mãe de Lelê era analfabeta. Assim que chegava a hora do grupinho de crianças despontar no caminho, já estava no portal da casa à espera do filho. Também estava apreensiva; queria ficar mais alegre com as novidades que estavam para chegar. Por isso que nem deu tempo para o menino tomar uma caneca de água na talha. Foi perguntando: “E aí, Lelê? Gostou da escola, da professora? O que foi que você aprendeu de mais importante hoje?”.  Depois, ficou sem saber o que dizer à resposta do filho: “Eu aprendi que o meu nome não é Lelê. É Alexandre!”.

                Comigo, consigo lembrar daquele dia, estavam: “Paió” (Roberto), “Caramuru” (Valdemar), “Vermelho” (Luís), “Vardão” (Osvaldo), “Neguinho” (José), “Néchico” (Nelson), “Diquinho” (Benedito), “Corondó” (Elias) e “Ico” (Celso).  Será que a moral da história era para nós?

                Numa ocasião, ao repetir esse causo, o Ico disse: “Cuidado, Zé! O meu avô é o Targino!”

                Em tempo: a Idalina, caiçara da Ilhabela mencionada pelo Targino, escreveu dois livros: Terra Tamoia e Bom dia, Ubatuba. Atualmente duas escolas trazem o seu nome. Eis uma bela homenagem! Porém, o Targino nunca soube disso.

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