sábado, 7 de maio de 2011

Mané Hilário (Parte 16)


A Revolução de 1932
         Na revolução de 32 os carioca vieram aqui na Piuba, mas correram também. Correram de medo das vacas. Os gado do Zé Fabiano (que o Zé Fabiano ia levando pro sertão pra botá no pasto)...Eles avistaram o Zé cá de longe, foram dizendo assim na Itamambuca, na casa de um senhor lá, que uma esquadra de São Paulo ia de encontro com eles. Vortaram embora. Perderam perneiras... Eu achei um par de perneiras, achei dois pente de bala e fui levá na poliça. Levei lá... Deixaram tudo e correram tudo.
Júlio: Tinha um lugar na estrada velha de Itamambuca, no Morro da Cruz, onde fizeram trincheira, não tem? Tem um valão lá.
M.H.: Ali não fizeram. Ah! Aquilo lá é antigo! Ali era a picada nossa, que nós entrava pra ir pra caçá. Aquilo ali é do tempo do engenho, lá na Itamambuca. Eles não fizeram nada não. Eles deram graças a Deus ir embora logo, senão era capaz dos paulistas... Eu fui chamado. Foram lá me intimá eu lá. Eu tive trabalhando lá com eles à noite, né? De vigilante. Eu e mais uns três, mas depois... logo parou a revolução; eles ganharam lá a causa. Cabou tudo. Eu fui junto com eles. Então o moço, o sordado perguntou pra mim: “Seo Mané: e se eles virem aqui e nós quisé fugi, pra onde sai?”. “Vocês vão pra onde eu for” - Eu falei pra eles – “Que daqui nos rodeia por Itamambuca, saímos  na preia do Arto”. “O senhor sabe, seo...?”. “Eu sei todo o caminho. Sei tudo!”.
         O meu cunhado, o Agenor Fernandes, morava no bananá do Guedes. Nós ia indo, o poliça disse assim pra nós: “Olha, não vamo tudo numa direção só. Vamo afastado um do outro”. Eu  compreendi logo: ele manda afastá um do outro porque se dé argum tiro, argum escapa. E de fila assim a bala atravessa todo mundo, né? Quando chegou lá no bananá, daqui a pouco, no meio do mato: brá, brá, brá, brá... Um cachorro do mato comendo banana madura. Eles: trac, trac, trac... “Deita no chão, deita no chão”. Nós deitemo no chão assim [gesto das mãos cobrindo a cabeça]. Ele ficou de prontidão. Tivemos ali um bocado de tempo. Ele: “Parou, parou”. Eu disse assim: “Não é nada não”. “O que é?”. Eu disse assim: “É cachorro do mato! Não conhece cachorro do mato? É um cachorro grande que tem no mato, que é criado no mato; que come banana”. Aí nós puxemo uma folha de banana assim [gesto] pra fazê rumor. Ele: brau, brau, brau, brau, brau...Correu pro mato afora. Ele: “Ah, danado! Se eu te vejo já dava um tiro”. Fez nós deitá co’a barriga no chão por causa do cachorro do mato.
         No Perequê-açu tava o Raimundo e o Bertino na preia, no porto, e... O Raimundo tinha um revórver. E os poliça tava lá em casa, na minha casa. Nós tava no sertão. Eles mandaram nós ir pro sertão e ficaram na minha casa, lá. Aí... o Bertino com o Raimundo, na preia, e... tava um cepo na preia, no lagamá da preia que o mar batia. O cepo pendia pra lá e pra cá. O Bertino não fez mais nada e... pááááá! Deu um tiro. Quando deu o tiro, já tava a poliça daqui toda em roda. “Quem é que atirou aí?”. E agora? Aí o Bertino: “Atirei um vurto lá; não sei o que era dentro d’água. Pra mim era um sordado”. Aí foram vê: era um cepo. O Bertino ficou tão nervoso... travessou os dois rios de noite, subiu aquele morro do Teodoro Daniel. Foi lá em cima. Amanheceu o dia dormindo, cochilando assim no acero da roça. O Teodoro Daniel foi arrancá mandioca pra fazê farinha, tava ele cochilando. Era o genro que tava lá cochilando.

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