quarta-feira, 8 de maio de 2024

INDRUMISTO

 

Joaninha linda - Arquivo JRS

            O texto de hoje é relativo à palavra indrumisto que está sumindo, deixada de ser falada, mas continuada a ser praticada, fazer parte do ser de muita gente da comunidade. É uma contribuição da minha querida esposa Gláucia. Concluímos que a maior indrumista que conhecemos até hoje foi a vovó Martinha, nascida na praia do Pulso, em Ubatuba. Boa leitura. 


   É uma palavra da minha infância: indrumisto. Talvez - ou provavelmente - eu tenha sido acusada injustamente de ser indrumista, com o que eu não podia concordar. Porque criança é curiosa, o que é bom e saudável, a curiosidade faz parte do desenvolvimento. Porém, se na minha autoanálise infantil, eu não era indrumista, conhecia várias pessoas que podiam ser classificadas assim. Ainda hoje esse adjetivo me vem à mente diante de atitudes de algumas pessoas que pretender saber detalhes da vida alheia, questionam, especulam, enfim, metem o bedelho onde não lhes diz respeito. Agora que digo isso, me dou conta que a palavra bedelho também anda sumida dos meus ouvidos. Sempre a ouvi somente na expressão “meter o bedelho onde não é chamado”.

   Se as pessoas não usam uma determinada expressão ou uma palavra, ela vai se perdendo. Dizemos que cai em desuso. É assim mesmo, a linguagem é viva, está em constante transformação.

   Percebi recentemente que não ouço mais ninguém dizer indrumisto. Acho que os jovens não sabem o que significa. Então preciso explicar. Indrumisto é a mesma coisa que enxerido, fofoqueiro, intrometido. Mas o fato é que essas outras palavras não dizem exatamente a mesma coisa. Indrumisto vai um pouquinho além, é o sujeito que fica escarafunchando (mais uma palavra antiga), quer dizer, buscando insistentemente saber mais e mais. Olha por cima do muro, por baixo da cerca, estica o pescoço, apura o olhar e afia a língua para a necessidade premente de comentar os fatos reais ou imaginários da vida dos outros. 

   Tenho uma certa nostalgia de ouvir a palavra indrumisto. Mas o que me deixou chocada foi não encontrar essa palavra nos dicionários onde procurei. Procurei no Google também. Nada. A tal inteligência artificial da internet insinuou que é uma palavra do Esperanto. Não sabe nada...

    Não é o dicionário que diz se uma palavra existe ou não existe. Primeiro vem o uso, a linguagem na vida real, os significados na comunicação. Só depois é que os dicionaristas recolhem e descrevem nos verbetes. Nenhum desses estudiosos escreveu indrumisto? Nenhum deles esteve na minha casa, na minha rua, no meu bairro, nem viveu naquela época para ouvir minha mãe dizendo para minha tia o quão indrumisto era o vizinho?

2 comentários:

  1. Parabéns, Gláucia! ótimo texto! Duvido que você tenha sido indrumista alguma vez! Não faz seu gênero!
    Nunca ouvi ou li essa palavra antes! Alguém já disse que o povo é "inventa-línguas. Tinha razão.

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  2. Eu concordo com você. Só que eu me julgo um pouco indrumisto

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