quinta-feira, 30 de maio de 2024

FEZ-SE A LUZ!

 

Cadeia Velha hoje é museu, homenageia Seo Filhinho - Arquivo Ubatuba



     A metade do ano se aproxima. É quando a religiosidade católica do meu povo também festeja a festa de Pentecostes, onde a fé conduz os corpos à comemoração da manifestação do espírito da divindade na Terra, aos seus seguidores. É famosa Festa do Divino Espírito Santo. Em Ubatuba, por motivação econômica a partir do advento do turismo, essa comemoração foi deslocada para o mês de julho, quando era a época de férias escolares e as famílias de outras cidades (capital paulista, Vale do Paraíba etc.) afluíam às nossas  famosas praias. Então precisava ser pragmático, adaptar o calendário cultural local para aumentar os rendimentos da municipalidade, dos cidadãos locais. Só por isso. Nos municípios vizinhos tudo continua igual, seguindo o calendário religioso.

    Eu comecei este texto há anos, numa época dessa, quando a cidade festejava a referida data. Toda a Praça da Matriz estava iluminada, com muitas e variadas barracas. Um cheiro intenso de tainha assada convocava a grande multidão a degustar esta iguaria tão especial a nós. A minha saudosa mãe aguardava o início do tradicional bingo. Foi quando me lembrei de uma emocionante informação dada pelo Seo Filhinho há décadas. Ei-la a seguir:


Em 1927 o Capitão Deolindo de Oliveira Santos, um dos homens mais entusiasta e amantes da terra em que nasceu, dedicando-lhe, dentro das restrições da época, todas as suas energias e incontida dedicação, era o Imperador (festeiro) do Divino Espírito Santo.

Para aquela festa, um esmerado programa fora organizado, mas o Capitão Deolindo querendo dar-lhe um cunho todo especial, foi a São Paulo, adquiriu um motor e o restante de aparelhamento necessário, mandou proceder às instalações e durante o período da festa, sua residência, a Rua Dona Maria Alves, a Praça da Matriz e a Igreja luziram feericamente, proporcionando um espetáculo inédito em Ubatuba e a muita gente que daqui nunca havia saído, dada as dificuldades de transporte daquela época.

Foi, portanto, o Capitão Deolindo, o pioneiro da luz elétrica em Ubatuba.

 

   Fiz questão dessa informação, principalmente da parte final, quando imaginei a epopeia de ir até a capital paulista, adquirir um motor e demais equipamentos, transportar até Ubatuba e conseguir alcançar o propósito, propiciar uma festa iluminada, apresentar o centro da cidade iluminada aos caiçaras. Naquele tempo não existia as rodovias que nos ligam a outras cidades. O jeito mais fácil era ir pelo mar até Santos e, em seguida, subir a serra para alcançar a cidade de São Paulo. Depois... retornar com a carga dos produtos comprados e refazer o mesmo percurso, desembarcar no porto da Prainha do Padre, providenciar a instalação e ver o resultado final, ficar satisfeito com o maravilhoso efeito nas noites festivas. É coisa de gente muito entusiasta mesmo! Quem faria isso hoje? Quem enfrentaria tudo isso para proporcionar uma Festa do Divino inigualável? Fez-se a luz!

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