domingo, 19 de maio de 2024

DESTE CANTINHO

 

 

Uma linda lagarta - Arquivo JRS

      Ubatuba é um pedacinho deste imenso Brasil; fica na borda da terra firme, aos pés da Serra do Mar, depois é mar imenso. Foi deste cantinho que aprendi a observar o mundo. A tecnologia (tv, celular, computador...) me auxilia bastante, mas  a leitura cotidiana nunca haverá de faltar. Disso tudo brotam as minhas reflexões. Resumindo: caiçara não tem desculpas para ficar alheio na realidade de país e de mundo. Mais importante: caiçara não pode ser cúmplice de gente que deseja o pior dos mundos para a maioria do nosso povo. Escrevo este texto agora depois de ver cenas na área da tragédia que vive a região gaúcha, mais especificamente de um político - que votou contra a liberação de verbas para auxiliar nessa emergência! - produzindo conteúdo para a sua bolha, se passando como solidário num passeio nas áreas alagadas. Mas por que ele consegue tanto alcance midiático? Por que tanta gente engole a isca tão facilmente? Pretendo me explanar nisto.

     As redes sociais estão para todos. O estimado Tião Banana me disse num dia distante: “Hoje até cachorro tem celular”. Neste contexto, as mentalidades se moldam a um princípio, a uma carência produzida no ego, tipo “eu não preciso de umas coisas, preciso de curtidas nas redes sociais”. É bem isto! A minha imagem tem necessidade de falar mais alto. Então preciso fazê-la com fotos, textos, comentários etc. para conseguir audiência, ter seguidores. Eu necessito de público para participar da guerra de informações e de narrativas midiáticas. Nesta guerra, conforme as ideologias, geram-se as bolhas a disputar adeptos (reacionários ou revolucionários). Vou me deter nas bolhas reacionárias, que fomentam absurdos, tais como: “As árvores precisam ser cortadas porque causam tragédias”, “As armas garantem a segurança”, “A reserva legal na Amazônia não deve existir”, “Pobre não quer trabalhar porque recebe auxílio do governo”, "Casas de pobres deve ser proibido nos morros, mas mansões estão liberadas, não estragam nada", “Mangues devem ser aterrados porque não servem para nada”, “Caiçara é preguiçoso” etc.

     As bolhas reacionárias são alimentadas por notícias falsas, por mentiras. Esses agrupamentos com milhares de seguidores são excludentes, contribuem com a formação de mentalidades  que se voltam contra os excluídos pelos que detêm o comando econômico e político. São reacionárias porque ressuscitam ideais medievais ou de um período ainda mais anterior, cujo produto principal é a intolerância. O resultado é a violência crescente. Dias atrás, conforme já disse, um político produzia conteúdo para a sua bolha: passeava, com alguém produzindo a filmagem, posava de motonauta solidário, dando informações direto de uma cidade alagada do Rio Grande do Sul. No entanto, esse mesmo indivíduo votou contra um pacote de ajuda econômica ao estado gaúcho que vive situação crítica. Só que a sua bolha, os seus seguidores receberão as imagens (fotografias, discursos...) como valor de caráter do mesmo, não perceberão que o sujeito foi notoriamente incoerente numa única semana: votou contra a ajuda ao povo que sofre com a enchente, mas posou como quem quer ajudar os flagelados dos alagamentos. Pior: a maioria dos seguidores desse ser são pobres, votarão em gente assim para a destruição de tudo, inclusive dos direitos sociais tão duramente conquistados. É a minha gente apoiando genocidas no Brasil e no mundo, não reconhecendo os verdadeiros bandidos, os inimigos do povo.

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