Tião Giró explicando a técnica - Arquivo internet |
Velho Giró e filho na praia da Enseada - Arquivo Família Prochaska |
Imagem atualizada - Arquivo Elder |
Tião Giró, nascido Sebastião Giraud
Filho, em 1943, era filho de pescadores. O pai dele já trabalhava com a técnica
dos cercos flutuantes trazida pelos japoneses por volta de 1920. Foi
observando, trabalhando com o pai, que ele se tornou um especialista em cercos
flutuantes. Aos 25 anos ele já era um mestre. Eu recomendo o texto OS ÚLTIMOS MESTRES
REDEIROS DA ARTE DE PESCA DE CERCOS FLUTUANTES, dos pesquisadores Roberto
William Von Seckendorff, Venâncio Guedes de Azevedo e Josef Karyj Martins.
Fazer um cerco flutuante eficiente,
garantir uma pescaria perfeita, não é fácil. Foram décadas de vivência que se
encerraram agora, em dezembro último. “O pai do
Hélder está muito mal, Zé”. Quem deu a notícia foi o meu primo Zé Roberto. No dia seguinte havia
falecido esse último mestre da técnica de pesca de cerco porque ninguém se
importou em aprender com ele. Assim, aquele modelo assimilado dos migrantes
nipônicos, onde era possível escolher os peixes maiores e soltar os menores
para que crescessem tende a desaparecer, assim como desaparecerão os
enfrentamentos no mar dos caiçaras de outros tempos. Também vai depender de nós
a memória de Tião Giró, Acácio, Zeca Paru, João Quintino, Dito da Mata, Elídio,
Dito Funhanhado, João Vitório e muito mais gente que fundeavam cercos e
tresmalhos pelas nossas costeiras,
sobretudo no entorno da Ilha Anchieta.
Ao receber a triste notícia, citei para o Zé Roberto aquela frase do
pensador africano Hampaté Bah, do Mali: “Quando
morre um africano idoso, é como que se queimasse uma biblioteca”. Isto vale
para todos os povos, para todas as culturas, inclusive à cultura caiçara. Agora, mais um esteio dessa nossa cultura nos deixou. Aquela gente fotografada bem criança, na década de 1940, está se despedindo de nós. Quem
registrou, quem deixará para a história um pouco dessas “bibliotecas” que
seguem nos deixando?
Que cada um de nós, cada ser caiçara do presente, possa se apropriar
dessas memórias que nos trouxeram até aqui. Muita força aos filhos, parentes e
amigos que conviveram com ele. Gratidão ao Tião Giró pelo exemplo de vida!
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