Eu e Caetano - Arquivo JRS |
Hoje, véspera de Natal, eu e a filha (Maria
Eugênia) fomos até a roça do Caetano, na estrada do Monte Valério. Por ali tudo
vai se transformando rapidamente por conta da proximidade com o centro urbano. Foi-se o
tempo em que aquele lugar parecia distante, dava até preguiça de andar. Quando adolescente, eu achava que era uma
lonjura danada. Naquele tempo quem
produzia nessa terra eram os japoneses. Hoje mudou muito, logo tudo vai estar
com ruas e casas. Portanto, a área plantada vai se reduzindo até chegar um dia
em que o Caetano ou seus descendentes terão apenas a porção que fica debaixo da
rede elétrica. Ali, certamente, se concentrará toda a produção.
Chegamos pouco depois das seis horas, bem
cedo. Mas o amigo Caetano já estava lá, debruçado sobre o canteiro, transplantando
rúcula entre cebolinha. Um abraço gostoso deu início à prosa atualizada. A
primeira parte foi sobre as condições de saúde do Velho Caetano: “Eu quase que morri, Zé e Maria. Se não fosse o telefone,
o celular, eu estaria morto. Me senti mal, fui quase que rastejando até o
barraco. Lá chegando, tentei telefonar,
pedir ajuda. Passei sufoco, me dei como morto. Só que o filho da vizinha
conseguiu contato com o meu filho que veio e me levou ao hospital. Agora estou
bem, produzindo de tudo um pouco, aproveitando a época que mais vendemos couve
e pepino. Lá, depois do canteiro, tem berinjela, inhame, jiló e abobrinha”.
Que bom encontrar o Caetano com tanta
disposição! Em seguida fomos tomar um café. É um ritual que fazíamos mais
frequentemente, mas outros rumos surgiram no horizonte, quebraram esse nosso prazer
. Nisso a conversa segue para a criação de patos. Dele ouvimos: “Por esses dias eu vendi quase quatrocentos
patos. As galinhas não se dão muito bem comigo. A criação está lá no terreno do
Gilberto. Já estive cedo lá alimentando as aves. Cheguei aqui por volta da
quatro e meia, ainda no escuro”.
É assim; sempre foi nesse ritmo. O meu
amigo, o Velho Caetano, costuma madrugar cotidianamente. Ouso dizer que quando o seu dia não for
assim, não começar desse jeito, podemos desconfiar
que coisa boa não é. É a minha experiência de anos convivendo nesse
espaço e com essa nossa gente.
Eu e Maria deixamos o nosso anfitrião na
tarefa e fomos dar uma volta pelos canteiros, vendo o vigor e os arredores.
Depois voltamos para as despedidas. “Amanhã
é Natal, mas a roça não para. Eu estarei aqui, se Deus quiser. Tudo de bom a
vocês e à toda família. Foi bom rever você e a Maria. Apareçam sempre e mais
vezes”.
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