Eu e Maciel - Arquivo Maria Eugênia |
Banana velhaca - Arquivo Maria Eugênia |
Por estes dias, na Feira Agroecológica
Caiçara, passei um tempo proseando com o amigo Maciel, natural do Ubatumirim,
mas há alguns anos vivendo da agricultura em Catuçaba, bairro do município
vizinho de São Luiz do Paraitinga. Eu recomendo os seus maravilhosos produtos
que estão à venda semanalmente na Feira (quarta-feira, das 9:00 às 14:30 horas),
no centro da cidade de Ubatuba (Rua Orlando Carneiro, 422).
Além da diversidade de produtos que o
Maciel traz a cada semana, a minha
surpresa foi encontrar uma variedade de banana que até já tinha esquecido que
existia. Trata-se da banana velhaca. Assim a nomeavam os mais
velhos. Num primeiro momento ela se assemelha muito à banana da terra, com
algumas sensíveis diferenças: cresce mais, tem uma cor alaranjada por dentro,
produz poucas pencas com um mínimo de frutas dispostas de forma desengonçada.
Ou seja, é uma espécie “pouco” produtiva. Porém, há um detalhe muito particular,
que mais chama a nossa atenção. Estou me referindo à forma como se planta essa
raridade. Vou explicar essa particularidade especial: você abre um buraco, uma
cova adequada ao tamanho da muda, faz um lastro no fundo com brasas e cinzas e
deposita a muda. Sim! Ela é plantada em cima de brasas vivas, de cinzas
quentes! Em seguida entra a terra que vai preencher o buraco feito e afirmar a
nova plantinha. Depois é só aguardar o crescimento e a produção. E se deliciar,
claro! Não sei dizer porque a nova muda passa por esse processo inicial. É um
saber antigo, um fazer que deve ter uma razão mais profunda. Fica a dica para
uma pesquisa na área da Agronomia e afins. O Maciel me contou o seguinte: “Lembro-me bem do vovô plantando banana
velhaca. Geralmente era no fim da tarde, em dia de forneada de farinha, quando
tinha bastante brasa e cinza acumuladas no forno. Ele catava aquele tanto e
jogava no buraco. Depois botava a muda em cima e preenchia de terra em volta.
Eu, lá no meu terreno, já colhi dessa banana com mais de quarenta centímetros”.
Gostou da informação? É pena que os
espaços caiçaras se reduzam assustadoramente. Também sinto muito por muitas espécies,
outrora cultivadas nos terrenos do litoral, que estão desaparecendo. Mais triste é saber que fica na ignorância de muitos o total desconhecimento de tamanha riqueza cultural que garantiram a vida dos nossos antigos. Por isso
louvo os esforços do Maciel e de mais algumas pessoas preocupadas em zelar por
determinadas plantas, em mantê-las e apresentá-las às gerações mais novas.
Gratidão ao meu amigo por ter levado, botar na banca a banana velhaca!
Pois é! Tantos saberes se perdem com a passagem do tempo por causa da busca incessante do que é mais produtivo em termos de lucro. Parabéns por sua luta para que a cultura caiçara não desapareça, e parabéns ao Maciel por preservar o que ele pode.
ResponderExcluirValeu, Jorge. Eu agradeço muito por tê-lo como amigo e leitor do blog.
ResponderExcluirSer seu amigo é um privilégio meu, e ler seu blog é um momento de prazer e aprendizagem.
ResponderExcluirFico muito contente por suas palavras, sei que elas saem do coração. Gratidão mesmo!
ResponderExcluir