terça-feira, 26 de dezembro de 2023

QUANDO A GENTE SE ENCONTRA

 

             

Eu, Domingos, Clóvis e Ana - Arquivo Mingo

   

      Na minha família, quando a gente se encontra, a prosa varia, mas sempre tem muitas risadas. Ontem, o almoço de Natal com a irmandade e familiares me fez recordar de tantos momentos ao longo desses anos desde a infância, quando os motivos eram diversos (raspar mandioca, juntar peixes na rede, prosear no jundu, escutar histórias, fazer cantoria nas casas etc.). Sentimos as ausências do Jairo e do Guinho (Wagner) por motivos particulares. Senti uma grande alegria pela sobrinhada que há tempos não via. Pena  que Estevan e Pedrinho não estavam. Também pensei na Mônica.

     Muitas mudanças são notórias ao longo da existência da nossa irmandade, sobretudo devido às ocupações dos espaços por turistas e migrantes pobres que para cá acorreram em busca de melhores condições de sobrevivência e de lazer, resultando em diminuição das áreas de cultivo  e em extinção das áreas, nas praias, destinadas aos ranchos das canoas e demais apetrechos de pesca. A juventude também perdeu muito! Sumiram os campos de futebol. Desapareceram os sombreados nos jundus onde ocorriam alegres encontros; muitos namoros tinham ali seu ponto de partida. Tudo isso me veio à mente lendo agora umas anotações deixadas pelo Olympio Corrêa. Eis o que está detalhado da metade da década de 1970:

 

        Entre os caiçaras, a mandioca é cultivada em larga escala e dedicada quase que exclusivamente ao beneficiamento, isto é, a ser transformada na sua respectiva farinha. Mesmo na praia, onde a pesca é uma atividade importante e as roças estão em decadência, sua população ainda fabrica a farinha para o gasto e, às vezes, para a venda. Todavia, é no sertão que esse beneficiamento constitui a principal fonte de renda. Os produtos derivados da mandioca são, além da farinha, a goma, a tapioca, o biju e o polvilho.

     Na alimentação caiçara, seja do sertão, das praias ou dos emigrados para a cidade, a farinha de mandioca constitui a metade dos demais  comestíveis. É comumente misturado ao feijão, ou misturado ao café. Quando juntada à banana amassada, torna-se paçoca, quando torrada com toucinho ou carne é farofa e, ainda, como pirão, quando cozida na água quente ou no caldo de peixe. As próprias criações, inclusive cães e gatos, têm na farinha seu principal sustento.

      A operação do beneficiamento da mandioca dura de um dia e meio a dois dias. A programação da quantidade da farinha de  mandioca a ser fabricada é feita no dia anterior ao forneamento. Conforme o número de membros da família, sua capacidade de trabalho e suas necessidades, o chefe da casa planeja de dois a três tipitis de massa, que renderão de dois a três alqueires de farinha.


  Nesta última parte até parece que o autor se referia ao vovô Zé Armiro, da praia da Fortaleza. Saiba que cada alqueire - medida antiga! - equivale a aproximadamente 25 litros ou 20 quilos. Metade dessa produção ficava para ser consumida por nós e a outra seguia para ser negociada no centro da cidade ou em qualquer mercado maior de alguma praia.

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