A mãe estava exaurida, cuidando das três crias. O pai? Ninguém sabe quem é. Uma varanda servia de abrigo aos sofredores. Sempre haverá gente a falar mal, querer reprimir, expulsá-los para os caminhos. Certa está a minha companheira ao desmascarar as hipocrisias: "Se eu não puder ajudar esses coitados, eu não vou atirar pedras. A vida já os massacra demais. Ninguém escolhe essas condições porque acha bom". Viver ao relento, depender da misericórdia dos outros, dos restos encontrados jogados pelos caminhos. Sofrer ainda mais com as condições climáticas nem sempre suportáveis sem ao menos um papelão para se esquentar. Sempre estou escutando comentários favoráveis à morte dessas criaturas marginalizadas. Me enche o coração quando alguém oferece comida, remédio etc.
Olhando aquela mãe, vi o seu cansaço, mas cuidando da melhor forma dos seus pequenos: com paciência, raramente se separando deles. Apenas a fome a obriga a umas escapadas. Me pergunto sobre o destino de tais criaturas. Como sobreviverão neste mundo? Quais comportamentos desenvolverão para conseguirem sobreviver?
Cada um de nós é o resultado de lutas por sobrevivência ao longo do tempo. Imagino os primórdios, quando a fome ditava comportamentos de forma acentuada, resultando em mortes. É tão diferente de hoje? Também acredito que nesse tempo surgiu a solidariedade, a compaixão para com os mais fracos, com deficiências físicas etc. Surge a moral, se desenvolve a ética a respeito das diferenças, das diversidades, das fragilidade em todos os aspectos. Paro de escrever. Escuto a chuva. Sei que lá fora, em alguma varanda, uma mãe se abriga com suas crias. Conforme escreveu alguém, "Está aberto o caminho para novas versões e refinamentos da hipótese da alma".
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