Eu, Domingos, Clóvis e Ana - Arquivo Mingo |
Na minha família, quando a gente se encontra, a prosa varia, mas sempre tem muitas risadas. Ontem, o almoço de Natal com a irmandade e familiares me fez recordar de tantos momentos ao longo desses anos desde a infância, quando os motivos eram diversos (raspar mandioca, juntar peixes na rede, prosear no jundu, escutar histórias, fazer cantoria nas casas etc.). Sentimos as ausências do Jairo e do Guinho (Wagner) por motivos particulares. Senti uma grande alegria pela sobrinhada que há tempos não via. Pena que Estevan e Pedrinho não estavam. Também pensei na Mônica.
Muitas mudanças são notórias ao longo da
existência da nossa irmandade, sobretudo devido às ocupações dos espaços por
turistas e migrantes pobres que para cá acorreram em busca de melhores
condições de sobrevivência e de lazer, resultando em diminuição das áreas de cultivo e em extinção das áreas, nas praias, destinadas aos ranchos das canoas e demais apetrechos de pesca. A
juventude também perdeu muito! Sumiram os campos de futebol. Desapareceram os
sombreados nos jundus onde ocorriam alegres encontros; muitos namoros tinham
ali seu ponto de partida. Tudo isso me veio à mente lendo agora umas anotações
deixadas pelo Olympio Corrêa. Eis o que está detalhado da metade da década de
1970:
Entre os caiçaras, a mandioca é
cultivada em larga escala e dedicada quase que exclusivamente ao
beneficiamento, isto é, a ser transformada na sua respectiva farinha. Mesmo na
praia, onde a pesca é uma atividade importante e as roças estão em decadência,
sua população ainda fabrica a farinha para o gasto e, às vezes, para a venda. Todavia,
é no sertão que esse beneficiamento constitui a principal fonte de renda. Os
produtos derivados da mandioca são, além da farinha, a goma, a tapioca, o biju
e o polvilho.
Na alimentação caiçara, seja do sertão,
das praias ou dos emigrados para a cidade, a farinha de mandioca constitui a
metade dos demais comestíveis. É
comumente misturado ao feijão, ou misturado ao café. Quando juntada à banana
amassada, torna-se paçoca, quando torrada com toucinho ou carne é farofa e,
ainda, como pirão, quando cozida na água quente ou no caldo de peixe. As
próprias criações, inclusive cães e gatos, têm na farinha seu principal
sustento.
A operação do beneficiamento da mandioca dura de um dia e meio a dois dias. A programação da quantidade da farinha de mandioca a ser fabricada é feita no dia anterior ao forneamento. Conforme o número de membros da família, sua capacidade de trabalho e suas necessidades, o chefe da casa planeja de dois a três tipitis de massa, que renderão de dois a três alqueires de farinha.
Nesta última parte até parece que o autor se referia ao vovô Zé Armiro, da praia da
Fortaleza. Saiba que cada alqueire - medida antiga! - equivale a aproximadamente 25 litros ou 20
quilos. Metade dessa produção ficava para ser consumida por nós e a outra
seguia para ser negociada no centro da cidade ou em qualquer mercado maior de alguma praia.