terça-feira, 21 de dezembro de 2021

AS ÁGUAS SAGRADAS (II)

 


Na parte anterior,  a  comunidade  caiçara  decidiu algumas coisas para amenizar a crise com o Rio do Destacamento, mas...continua aí, Roberto.


       Mas é claro que tais medidas, apesar de obedecidas, não agradaram  a todos. Os mais festeiros se reuniram na casa do Sabá, para tentar  colocar fim a essa eterna quaresma. Mané Vermelho levou a rabeca  enrolada num pano, porque as pessoas já estavam esquecendo  como que era uma rabeca e uma semana antes quase teve briga  depois da missa por não chegarem a um entendimento se o instrumento tinha 3 ou 4 cordas. O Benedicto Henrique, inspetor da  região, que fora o primeiro a chegar no local da reunião, examinou  a rabeca cuidadosamente e ficou de esclarecer a comunidade sobre  o número exato de cordas que havia nela. Passado esse primeiro  momento adentraram ao tema principal do encontro – “Precisamos que voltem as saúvas” – começou o Seu Fabiano. “A folia do Divino está parada no Lázaro esperando definição, e a gente não pode viver a merce do medo das formigas voltarem… então que voltem  logo e acabem com esse medo!” - concluiu. “Mas e se a gente da  jeito delas não conseguirem voltar?” - sorriu o velho Sabá relutante.  Todos concordaram com essa segunda opção. Os planos foram  elaborados e cada um deveria executar a sua idéia ordenadamente.  Mas antes fizeram promessa pra São Gonçalo. Os primeiros foram o  pessoal do Giró, mestres da fogueira dos festejos de Santa Rita, que  fizeram uma fogueira enorme no local, esperando que o calor  espantasse de vez as formigas e matasse as desavisadas. Cinco dias  se passaram com toda sorte de galhos e troncos sendo consumidos  em chamas. Findo o fogaréu, novo buraquinho apareceu ali perto  dos restos de carvão vertendo terra. O João Profeta foi o segundo,  tratou de cavucar tudo em volta e fazer um cimentado por cima do  formigueiro. O pessoal se animou ao ver, pensando em ser um local  adequado para dançar um bate-pé assim que as saúvas sumissem.  Mas não demorou muito elas desviaram um bocado a saída de seu  túnel e jogaram terra um pouco mais afastado o que em pouco  tempo cobriu o cimentado com um solo avermelhado. O pessoal do  Parú tentou empanturrar as trabalhadoras, todos dias deixavam  toda sorte de pescado na beira do rio para que as formigas fartas,  descansassem ao invés de trabalhar. Mas aparentemente esse  banquete marítimo só aumentou a velocidade e vigor do trabalho  das pequenas. Por último, o Sabá com Fabiano tentaram embriagar  as formigas deixando pratos cheios de cachaça na região. Todos se  animaram quando se reuniram e concluíram que o ritmo das  escavações parecia estar diminuindo a medida que mais formigas  viciavam-se, mas infelizmente o estoque de cachaça da região  estava ficando perigosamente baixo e tiveram que suspender essa  operação um tanto curiosa. 

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