Arte da Gal (Arquivo JRS) |
Meu primeiro sindicato (Arquivo JRS) |
Eu tive oportunidade de conhecer
o Mestre Paulo Freire, em 1989, por ocasião da gestão da prefeita Luiza
Erundina, na capital paulista. O MOVA (Movimento de alfabetização de jovens e
adultos) estava totalmente imbuído nos princípios desse professor pernambucano,
que passou um bom tempo exilado, se doando a uma boa causa em outras terras:
contribuir com a liberdade em seu sentido mais amplo. O seu método de alfabetização
estava -e continua! - em perfeita harmonia nesse sentido. Assim, ao se tornar secretário da
educação na citada gestão, logo implantou o MOVA. Os voluntários, empolgados
pelo ideal, geralmente eram estudantes e lideranças comunitárias. Os ambientes
de atuação eram os mais diversos possíveis. O meu era no canteiro de
obras, junto aos operários, camaradas do
cotidiano.
Após um dia estafante, vários
desses trabalhadores ainda mostravam disposição para se alfabetizarem. A cada
quinze dias, acontecia a reunião dos monitores, das lideranças, onde se
partilhavam experiências, se aprofundavam no Método Paulo Freire. No meu
caso, as minhas anotações eram os relatos dos camaradas:
“O Zé ‘Paraná’, servente de pedreiro, veio da
roça, de onde sente muita saudade. Sempre está cantarolando músicas sertanejas.
Eu, conforme vou escutando suas cantilenas, anoto as palavras significativas:
elas se tornarão geradoras, serão pontos de partida para o nosso próximo
encontro. Por exemplo, de tanto escutá-lo cantando a Grande esperança,
de Chico Rey e Paraná, escolhi estrofes inteiras para serem trabalhadas. A
primeira é esta:
A classe roceira e a classe operária/
ansiosas esperam a reforma agrária/ sabendo que ela dará solução/ para a
situação que está precária./ Saindo o projeto do chão brasileiro/ de cada
roceiro ganhar sua área/ sei que na miséria
ninguém viveria/ e a produção já aumentaria/ quinhentos por cento até na
pecuária”.
Conversando sempre, sério ou
descontraído, eu provocava o ‘Paraná’, por exemplo, dizendo que a música
preferida dele era devido a um dos autores ser o Paraná. E ele: “É, pode ser”.
E Chico Rey? “Não conheço”. Eu proponho conhecer um outro, com nome parecido, o
Chico Rei, escravo de Ouro Preto, do tempo onde o ouro movia o Brasil. Então, no
próximo encontro com os demais, você pode encaminhar esse assunto, esse tema.
Que tal? “É um bom ponto para avançar nas nossas aulas. Tá feito!”.
E assim, com o passar dos temas - e do tempo! -, os amigos da obra, com
certeza, foram alfabetizados, avançando na autonomia de pensamento, se libertando da dominação
consolidada e gerando a maturidade política.
Valeu, amigos e amigas!
Viva Paulo Freire!
Valeu, amigos e amigas!
Viva Paulo Freire!
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