quinta-feira, 17 de outubro de 2019

QUE PASSARINHO É AQUELE?


Ninhos na folha do jarobá (Arquivo JRS)




               Assim que chegamos ao sítio da Lourdes, em Aiuruoca, ao avistar a palmeira jarobá, notei uns ninhos dependurados nas pontas das folhas. Nunca tinha visto igual. Fui logo perguntando a respeito”. “É de guacho. Depois dos filhotes voarem, eles abandonam os ninhos, e, em três meses já não há nenhum sinal deles nas folhas da palmeira". Então, prestei atenção ao passarinho preto, de rabos amarelos.

               O que eles chamam de guacho, nós, caiçaras, conhecemos por japuírajapim ou guache. Os conhecidos nossos são pretos, com um sinal vermelho nas costas, mas também tem muitos amarelos!  Porém, a fala é a mesma, como sabiá chamando os filhotes para comer. Só que eu não conhecia o canto deles. É um assobio como se um foguete buscapé estivesse subindo. Tive a impressão que o pássaro, assobiando de uma árvore ao longe, quer transmitir à fêmea, no ninho, que ele está atento, protegendo-a, torcendo pelo sucesso dela que choca os ovos. Faz me lembrar do seguinte caso caiçara:

               Vovó Martinha, uma das parteiras da banda sul do município, sempre estava disposta a acudir quem estivesse precisando. Numa ocasião se baldeou para o Saco das Bananas, para atender a mulher do Gregório. Tudo correu bem. Uns dias depois ela já estava de volta ao Sapê, na lida dela. Quem me contou esta história foi o vovô Estevan. Dando boas risadas, ele apenas pediu a confirmação da vovó: “Não é verdade, Martinha, que o primo Gregório, toda vez que a mulher tem criança, também fica de resguardo?”. “É sim! Até parece que ele sente as mesmas dores e os mesmos alívios que a mulher!”.  
         E continuava o vovô: “O Gregório até parece um  japim zelando pelo ninho, pelos filhotes que vão nascendo e crescendo. Nesse tempo ele não pesca, não vai na roça, não faz esforço algum. Dura todo o resguardo da mulher. Só depois da quarentena é que ele sai, ainda mais branco que já é”. Novas risadas. “Até da garrafada preparada, remédio para a mulher,ele bebe. Acho que ele até bebe mais do que ela, que precisa”. E a vovó: “Pode ser mesmo! Quem gosta da mardita arranja cada desculpa! Ainda ontem - modo de dizer, né? -, não visse o Ditinho Madalena passar por aqui, a pedido dele, para levar mais uma garrafada?”.

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