Mané Gaspar, Luzia, Valdi e Maria. E o bebê Luciano (Arquivo Galo) |
O Dito, em suas memórias desde quando chegou ao Sertão da
Quina, deixa a gente perceber que se fez amigo de todos. Hoje, ele
expressa os seus sentimentos pelo saudoso Valdi do Dioclécio, meu vizinho do
Sapê. Os outros irmãos (Toninho e Vaudi) morreram bem jovens. As irmãs e o Maguinho estão por aí, na luta. O pai
(Dioclécio) era pedreiro, construtor que morava perto do Tonico, do
João Firmino e do tio Chico. Naquele tempo, me lembro dos outros
nossos vizinhos: Andrelino, Nié, Deolindo, Zé do Prado, Livina,
Totô, João Paulo… Ah! Quanta gente boa eu tive o privilégio de
conviver! Também trabalhei com o Valdi em várias obras. A última
foi por ocasião do telhado da igreja católica do Sertão. Ele
olhava para o João, tão gordo quanto ele, e dizia já gargalhando: “Gente
gorda é muito feia, né João?”.
AMIGO
IRMÃO
Existe
um ditado popular que diz o seguinte: “Amigo a gente escolhe,
parente é Deus que dá”. No caso desse meu amigo, aconteceu
diferente: foi um amigo que Deus me deu e um irmão que me escolheu.
Seu
nome é Valdi Ramos de Araújo. Valdi mesmo! (Para ser autêntico e
original como era o homem por trás do nome). Para quem o conhecia
desde criança: o Valdi do Dioclécio.
Caiçara
como poucos, no jeito de falar, andar, de agir e pensar. Todas essas
coisas inerentes ao homem. Porém, antes desse homem, havia o pai de
família e o melhor amigo que se pode ter.
Pai
de família daqueles à moda antiga; austero, mas carinhoso; sério
quando era preciso. Só que, no resto do tempo, brincalhão. Desses
de riso farto e jovial. Sujeito
trabalhador, de dar exemplo, e, acima de tudo, honesto. Desmentia a
preconceituosa máxima que “caiçara não gosta de trabalhar”.
A
respeito das relações de amizade, nunca conheci ninguém que
falasse mal dele. Quem não era amigo, respeitava-o. Falar do Valdi
como amigo é muito fácil, pois só tenho lembranças boas desde
quando o conheci, no fim de 1986, ano em que vim parar aqui, em
Ubatuba. Não tenho nenhuma lembrança ruim do nosso convívio, nada
que coloque em dúvida a nossa amizade.
O
Valdi era daquelas pessoas grandes. (Porque quem tinha um coração
grande, tinha de ser grande!). Nunca me esqueço das nossas
pescarias, pelo fato de ter aprendido muito nessas ocasiões, e
também pela alegria, pois ele nunca perdia a chance de rir e fazer
os outros rirem.
Hoje
as pessoas falam muito de consciência ecológica. Ele, naquele
tempo, tinha essa consciência. Nós nunca deixamos um siri, um peixe
miúdo na areia. Depois de escolher os maiores, íamos até ficarmos
com água pela cintura e soltávamos todos os que não tinham bom
tamanho.
Foram
sete anos inesquecíveis, de convivência quase diária. Afinal, eram
raros os dias em que ele não parava no mercado onde eu trabalhava.
Chegava sempre rindo, pedia um pão, cem gramas de mortadela, uma
coca… E haja conversa!
Lá
se vão vinte e seis anos que o Valdi se foi. Mais um que Deus me
emprestou e depois levou porque achou que devia levar. Acho que Deus
estava precisando de alguém que fizesse o povo do céu dar risadas.
Saudades
do meu amigo irmão. Ah, Valdi, gente gorda não é feia, ainda mais
quando é nosso amigo!
Benedito
Evangelista Filho (Galo)
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