Vai, gado! (Arquivo JRS) |
O
professor Paulo Freire, pernambucano que ganhou o mundo pelas suas ações e
teorias a favor da justiça, de uma educação libertadora, sempre merece ser
estudado com muito carinho por quem se interessa pela construção de um mundo melhor. O que escrevo agora se baseia em reflexões a partir
de sua obra Pedagogia do oprimido, um clássico da segunda metade da
década de 1960.
Hoje,
vivendo uma massificação cultural intensa, não tenho como discordar do mestre
nordestino: a invasão cultural serve à conquista. Abraçamos a cultura invasora
ao mesmo tempo em que freamos a nossa criatividade e perdemos a nossa
originalidade. De vez em quando escuto frases do tipo: “Quando eu nasci já não
tinha nada da cultura caiçara aqui”. Então aproveito e faço uma provocação: “Ou
será que você foi bombardeado para não enxergá-la?”.
Os
invasores modelam; os invadidos são modelados. Os invasores atuam; os invadidos
têm a ilusão de que atuam, na atuação dos invasores. Invasão pode ser por uma
sociedade matriz, metropolitana, numa sociedade dependente, ou, implícita na
dominação de uma classe sobre a outra, numa mesma sociedade.
E
como os invasores conseguem dominar tão facilmente? O ponto inicial,
tal como fizeram os primeiros portugueses que nesta terra chegaram, é saber
como pensam os invadidos. Um exemplo bem contemporâneo, nacional: os invadidos
têm medo do comunismo, mesmo sem saber o que é. Então... se investe nisso.
Vejamos como se dá concretamente essa modelação.
Dias
atrás, no ônibus, alguém mais velho do que eu, indignado pela lotação e atraso do
coletivo, me escolheu para dizer as seguintes “verdades”, certamente
decorrentes de determinadas mídias: 1- O petróleo que invadiu as praias do
Nordeste vazou de um navio russo; 2- A Venezuela não é um grande produtor de
petróleo. O seu maior reservatório fica no subsolo brasileiro, só que não
podemos explorar porque está na Amazônia, onde as terras foram dadas para os
índios; 3- A China é um exemplo a ser seguido porque, lá, o corrupto é morto
imediatamente [Quando eu disse que a China é comunista, ele voltou atrás, tomando como exemplo o Japão e a Turquia]; 4- A educação no nosso país está falida porque hoje em dia os
jovens vão à escola só para transar.
Aí, convicto de que o meu ouvido não é penico, me exaltei: “O senhor está dizendo uma grande mentira, aprendida de outra mentira (kit gay), promotora do ‘mito’, do governo que aí está. Eu, vivendo em escolas há vinte e oito anos, nunca presenciei essa tão falada sacanagem, essa suruba que fascina o senhor”. Nesse momento, sendo desmascarado de seu ‘profundo conhecimento’, ele cavou uma brecha, se dirigindo mais para os fundos do veículo. Saiu dizendo: "Eu já sou aposentado, mas continuo trabalhando. Criei meus filhos, criei meus netos e agora estou criando bisnetos. Eu sou trabalhador". Coitado! Quanta besteira! Mais um que se adaptou aos preceitos verticalmente estabelecidos, diria o professor Freire: "Um desses preceitos é não pensar". Entende, agora, porque o presidente que aí está persegue mais um nordestino, esse grande pernambucano?
Aí, convicto de que o meu ouvido não é penico, me exaltei: “O senhor está dizendo uma grande mentira, aprendida de outra mentira (kit gay), promotora do ‘mito’, do governo que aí está. Eu, vivendo em escolas há vinte e oito anos, nunca presenciei essa tão falada sacanagem, essa suruba que fascina o senhor”. Nesse momento, sendo desmascarado de seu ‘profundo conhecimento’, ele cavou uma brecha, se dirigindo mais para os fundos do veículo. Saiu dizendo: "Eu já sou aposentado, mas continuo trabalhando. Criei meus filhos, criei meus netos e agora estou criando bisnetos. Eu sou trabalhador". Coitado! Quanta besteira! Mais um que se adaptou aos preceitos verticalmente estabelecidos, diria o professor Freire: "Um desses preceitos é não pensar". Entende, agora, porque o presidente que aí está persegue mais um nordestino, esse grande pernambucano?
Questão: Quem está formando esse
pessoal, mantendo-o alienado, contra si próprio e contra a sua cultura? Com
certeza não sou eu!
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