quarta-feira, 23 de outubro de 2019

ESTAIS VENDO?

Jundu da Mococa (Arquivo JRS)


               Toda vez que eu passo numa praia, onde o mar bravo está comendo o jundu, me recordo das lições aprendidas de tantos dos meus antigos, dos homens e mulheres da minha cepa caiçara.

               O Nhonhô Armiro, fazendo seus trabalhos no terreiro falava: “Na praia Dura, onde hoje é mato, um dia foi mar. Eu me lembro bem quando a Pedra do Robalo era dentro da água! Agora fica longe, cercado de jambuí, de tralhas de cipó. Mas de vez em quando, na maré cheia, quem é que passa por lá? Sabe quem protege aquele morro toda vez que o mar bate? É a mata de jambuí, meu filho”.

               O estimado Genésio, do Camburi, olhando da roça me explicou: “Tá vendo o mar batendo, lá embaixo? Pois é. Ali, o que salva a praia é o tanto de jambuí que tem. Senão... aquilo tudo já teria ido embora, porque aqui, o mar quando entra de leste, parece querer arrasar tudo”.

               A comadre Gardina, sentada no banco, no jundu do Acaraú, num final de tarde distante, assim nos disse: “Estais vendo esse mato todo, essa linha de jambuí? Estais vendo? É o que salva a casa da gente do mar. A força do mar é grande, mas bate nas galhadas e morre por ali, não carrega areia nenhuma e ainda deixa aquele tanto  que trás. Se um dia isso se acabar, acaba também todo o nosso lugar, porque o mar não é brincadeira e tem muita força quando está bravo!”.

               Quanta sabedoria desses caiçaras! 
               Quantas lições da natureza!

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