quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

PREFÁCIO (I)

Viva  todas as mães da nossa cultura!  (Arquivo JRS)


               De vez em quando eu me pego pensando que muita gente não teve oportunidades de conviver, de ler, de se informar melhor sobre a realidade caiçara. Agora, relendo um prefácio de Dalmo de Abreu Dallari para o livro da Priscila Siqueira (Genocídio dos caiçaras - 1984), achei por bem oferecer a quem interessa alguns fragmentos desse notório jurista brasileiro:

               Este livro é a denúncia de um genocídio [...]. Em termos muito atuais, pode-se dizer ainda que é um retrato fiel da face desumana do desenvolvimento econômico. Além disso, tudo saído da pena de uma jornalista que sempre manteve fidelidade a seu compromisso humanista, este livro é o testemunho sucinto, preciso e corajoso de uma agressão à humanidade.   Essa agressão contínua, sem obstáculos e sem punições, favorecida pela degradação dos costumes políticos que atingiu o Brasil nas últimas décadas e apoiada no mito do progresso econômico necessário, que vem sacrificando grande parte da humanidade em favor do enriquecimento de alguns indivíduos [...]
               O cenário deste livro é o litoral Norte do Estado de São Paulo e um trecho do litoral Sul fluminense [...]. A autora, vivendo há muitos anos na região, vem testemunhando e sofrendo a deterioração física e social daquela área [...]. Tem procurado denunciar os aspectos mais agudos das práticas antissociais, antiecológicas e até mesmo antibrasileiras que se têm verificado naquela parte do litoral brasileiro.
               A par do caráter de denúncia, este livro de Priscila Siqueira é um importante registro de características e manifestações da cultura caiçara, em vias de extinção. A terra e o mar são prolongamentos das comunidades e com ambos o caiçara vive em verdadeira comunhão espiritual, respeitando-os como fontes de vida. Sem nenhuma preocupação com a acumulação de riquezas, o caiçara vive a “boa pobreza” que, longe de ser um estado de privações e desânimo, é a opção pela vida simples, espontânea e alegre. E assim, como fica demonstrado neste livro, o caiçara sempre viveu feliz.

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