Viva todas as mães da nossa cultura! (Arquivo JRS) |
De
vez em quando eu me pego pensando que muita gente não teve oportunidades de
conviver, de ler, de se informar melhor sobre a realidade caiçara. Agora,
relendo um prefácio de Dalmo de Abreu Dallari para o livro da Priscila Siqueira
(Genocídio dos caiçaras - 1984), achei por bem oferecer a quem interessa alguns
fragmentos desse notório jurista brasileiro:
Este livro é a denúncia de um genocídio
[...]. Em termos muito atuais, pode-se dizer ainda que é um retrato fiel da
face desumana do desenvolvimento econômico. Além disso, tudo saído da pena de
uma jornalista que sempre manteve fidelidade a seu compromisso humanista, este
livro é o testemunho sucinto, preciso e corajoso de uma agressão à humanidade. Essa agressão contínua, sem obstáculos e sem
punições, favorecida pela degradação dos costumes políticos que atingiu o
Brasil nas últimas décadas e apoiada no mito do progresso econômico necessário,
que vem sacrificando grande parte da humanidade em favor do enriquecimento de
alguns indivíduos [...]
O cenário deste
livro é o litoral Norte do Estado de São Paulo e um trecho do litoral Sul
fluminense [...]. A autora, vivendo há muitos anos na região, vem testemunhando
e sofrendo a deterioração física e social daquela área [...]. Tem procurado denunciar
os aspectos mais agudos das práticas antissociais, antiecológicas e até mesmo
antibrasileiras que se têm verificado naquela parte do litoral brasileiro.
A par do caráter de
denúncia, este livro de Priscila Siqueira é um importante registro de características
e manifestações da cultura caiçara, em vias de extinção. A terra e o mar são
prolongamentos das comunidades e com ambos o caiçara vive em verdadeira
comunhão espiritual, respeitando-os como fontes de vida. Sem nenhuma
preocupação com a acumulação de riquezas, o caiçara vive a “boa pobreza” que,
longe de ser um estado de privações e desânimo, é a opção pela vida simples,
espontânea e alegre. E assim, como fica demonstrado neste livro, o caiçara
sempre viveu feliz.
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